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A experiência de perder a mãe.

Atualizado: 17 de mai. de 2024

Em 2022 minha mãe se foi. E essa foi a experiência mais excruciante de minha vida. Foi literalmente como se algo se quebrasse dentro de mim. Algo que nunca mais seria consertado. Seria preciso aprender a viver sem a pessoa que mais influenciou a sua vida e uma fonte de afeto inigualável.


À época morava a uma distância de 380km e tive que percorrê-la dirigindo. A sensação de rodar tantos kms para encontrar a mãe morta é algo indizível, indescritível, e que não desejo para a pior das pessoas. Mas é algo que em uma situação temporal normal fará parte da vida de todos.


As obrigações cartoriais e funerárias ainda precisavam serem cumpridas e tudo foi feito em “modo zumbi”. Minha irmã que mora na Europa não poderia chegar à tempo vez que ao contrário do que aconteceu com meu pai, minha mãe faleceu inesperadamente.


Na oportunidade a perda imensa me trouxe uma gigantesca sensação de solidão e culpei minha irmã pela ausência, por não estar ali a meu lado, quando o que queria mesmo era tê-la junto a mim. Alguém que fosse capaz de sentir o mesmo que sentia, alguém realmente empática. Esse é um mecanismo de defesa que nossa mente cria a fim de poder suportar uma situação de dor emocional intensa. Eu e minha irmã nos tornamos mais unidos após a morte de minha mãe e certamente isso alegraria muito meus pais. É algo a se pensar.


Nas semanas que se passaram senti a necessidade de buscar tratamento face ao estado depressivo que me acometeu. Emagreci muito, me alimentava precariamente, e diria que apenas no final de 2023 o quadro em relação à minha mãe realmente melhorou significativamente após os altos e baixos tão característicos de tal doença.


Ao conversar com um amigo sobre a questão, ele me confessou que levou 9 anos e fez diversos tratamentos para superar a morte materna. É uma questão muito pessoal e a reação dos filhos ocorre de forma distinta para cada um, demandando tempo diferente para ser amenizada. Entendam que é literamente impossível descrever com absoluta precisão o que tal perda provoca em nossa mente e nosso corpo.


Há uma regressão imediata na maioria das pessoas e a experiência jamais será esquecida. Nada é parecido com arrumar o quarto onde a pouco sua mãe havia estado. Viva. É algo para os fortes. Qualquer coisa diferente disso me parece impender que alguma ruptura muito séria tenha havido na relação entre mãe e filho.


Passados 2 anos da morte de minha mãe há muita saudade e memória, mas não há propriamente dor, vez que já consigo trazer lembranças à mente e sorrir ao invés de chorar. É evidente que tal acontecimento é uma ferida que jamais se fechará completamente. A gente apenas convive com ela de uma forma melhor. Muitos se consolam e lidam com a situação através da fé e da crença de que um dia haverá uma espécie de reencontro transcendente de alguma forma. Em alguns dias gostaria tanto de acreditar nisso que quase consigo.


O verdadeiro luxo na vida, amigos, é ter mãe, saibam disso. Por isso, se ainda tiverem essa sorte, a abrace, a mime, releve discussões e destemperos. Se há rusgas, as perdoe se possível, consideradas as histórias pessoais de cada um, pois imagino que nem todas as mães foram figuras positivas e benignas.


De qualquer forma, é importante entender e trabalhar o luto em nossa vida de forma que compreendamos sua necessidade a fim nos tornamos sãos emocionalmente. Varrer o luto para baixo do tapete é sinal de falta de empatia, de graves transtornos de personalidade. Isso é um fato clínico.


A dor causada por perdas precisa ser vivida, ser experimentada, digerida. A dor te adoece mas também é necessária para te curar. O enfrentamento faz parte da nossa existência, nos define em nossa humanidade e nos redime como pessoas. Não há outro caminho.

 
 
 

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