A importância da terapia
- HP Charles
- 24 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de out. de 2024
É absolutamente compreensível que com a vida corrida, cara e difícil que temos hoje, a terapia ainda seja algo relegado a terceiro plano. Mas vamos cuidar de pessoas que podem fazê-la e abdicam do tratamento por mero preconceito ou desídia.
Em primeiro lugar, é preciso entender que terapia não apenas é capaz de melhorar absurdamente sua qualidade de vida. Terapia pode efetivamente SALVAR a sua vida. Ela pode diminuir ideações suicidas, pode te retirar de estados de isolamento e depressão inimagináveis. Diria sem o menor receio que TODOS deveriam fazer terapia. Seja ela qual for, seja ela com a qual você mais se identificar.
Em 2024, em um mundo cão, que se transforma veloz e implacavelmente, onde as conexões humanas se tornam cada vez mais frágeis, líquidas e por vezes doentias, a terapia aparece como uma luz em um túnel dominado pela escuridão.
A relação com seu terapeuta, se bem conduzida, apropriada e empática, leva o paciente a se sentir menos só, mais abrigado e capaz de enxergar questões pessoais que não foi capaz de visualizar sozinho, ou porque não conseguia ou porque as afastou por serem extremamente dolorosas.
O enfrentamento de traumas, de dores constituídas muitas vezes na infância, refletem em nossa vida adulta, conduzindo inconscientemente nosso comportamento, nossas atitudes. E tais rupturas se apresentarão inevitalvelmente na forma como agimos em relações íntimas e familiares. Como conduzimos, dirigimos e entregamos nosso afeto. Como nos doamos ou nos afastamos interpessoalmente. Com amor ou com agressividade. Com carinho ou com raiva. Gerando abrigo ou trauma.
Sempre fiquei com um pé atrás com pessoas que resistem veementemente ao processo terapêutico. Sempre me perguntei o que temeriam? Que rosto teriam receio em enxergar no espelho que lhes será apresentado? O que veriam que lhes seria tão assutador? Por que, por exemplo, alguns pacientes patológicos e portadores de transtorno de personalidade se mostram tão furtivos e por vezes tão agressivos à ideia de enfrentarem um processo psicológico ou psicanalítico? É uma questão a se pensar, não?
Em 1900 e guaraná de rolha isso seria compreensível, mas em 2024? De onde vem a resistência quando não oriunda de uma justa questão financeira? Haveria algo mais profundo e provavelmente mais sinistro?
Fiz terapia aos 30 e poucos e agora retorno, aos 50. Ela fez diferença antes e faz agora. Note que a inserção que produz em nosso sistema neurológico nos melhora clinicamente, e é percebida em nossa fisiologia, seja em exames de sangue, em lesões pontuais, em enxaquecas, em doenças autoimunes, em coisas claras como queda de cabelo, aumento absurdo de cortizol e alterações graves hormonais. Fatores emocionais que afetavam nosso corpo como um todo e que após algum tempo de terapia parecem desaparecer "milagrosamente". Só que não houve milagre. Houve trabalho.
O processo terapêutico te torna mais disposto, mais sociável, mas aberto a retornar a atividades antes abandonadas como esporte, hobbies que foram tão apreciados um dia. E o mais importante é que o processo terapêutico é capaz de de tornar alguém mais AFETUOSO. O falar é fundamental. O laconismo sempre me pareceu esconder algum tipo de patologia, dependendo de seu nível.
A psicanálise, por exemplo, ao contrário do que muitos pensam, não trata o que passou, mas sim o que ficou. Ela atinge reminiscências de seu passado que te imobilizam, te fazendo comprender seus medos, polir seus desejos, e assim oferecer alguma paz e equilíbrio.
Em um mundo insano, selvagem, cada vez mais devastado pela inumanidade, pelo ter em detrimento do ser, cuja moeda mais valiosa e desejada é a validação, o hedonismo e o narcisismo, a terapia te chama a atenção para o a realidade de nossa finitude e nos faz nos questionarmos sobre os valores que queremos realmente aplicar em nossas vidas. Nos ensina a separar desejo de necessidade, busca nos tornar mais empáticos, combate a nossa ansiedade, vez que nos explica as origens de nossos medos e ilusões.
Se pudesse deixar um conselho despido de qualquer arrogância, diria que nenhum investimento é maior do que o processo de se conhecer e lidar com nossos monstros interiores. Nossos medos de solidão, de envelhecimento, de perdas, de morte. Todos os temores justificáveis, mas INEVITÁVEIS e comuns a todos que dividem esse planetinha azul.
Aprender a conviver com eles é a única fórmula possível para uma existência mais pródiga e feliz. Relações simbióticas, codependentes, trocar paixões, acumular coisas, vícios, anestesias, NADA DISSO adiantará a longo prazo.
A única coisa que vai funcionar é se encontrar. É se aceitar. É melhorar a própria relação com o mundo e com o inevitável. Aprender a lidar com o luto, com as perdas, com as dores, e por fim...consigo mesmo. Não há outro caminho, pois todos os outros não combatem o medo, apenas te oferecem fuga.
Mas fugir para onde?
Comments