Amor e sacrifício.
- HP Charles
- 20 de abr. de 2024
- 4 min de leitura
Me parece absolutamente claro, mais do que isso até, indiscutível, a condicão indissociável do amor ao ato de sacrifício.
Em que pese a imediata associação cristã perpetuada ao Nazareno em sua mensagem de tomar as dores da humanidade em seu corpo e alma a fim de libertar e vencer o mundo em suas mazelas e adversidades - propalada em seu papel vicário como filho, e ao mesmo tempo Deus, em uma missão divina imutável - a tarefa real foi de impor o sacrifício a fim de obter redenção. Qual é o simbolismo milenar de tal questão?
Nesse sentido e em muito mais, então amor “É SACRIFÍCIO”. É se colocar em situações onde normalmente não se poria racional ou voluntariamente sem motivações pragmáticas ou de ganho, sejam ela quais forem.
Sim, o amor erótico, por exemplo, pode ser, e frequentemente é finito, mas ele também comumente é oriundo da transformação de um tipo de amor em outro. Por isso, ao final de relações longas ou relevantes, nos questionamos o que ficou. Se só restou mágoa, ressentimento, indiferença, ou NADA, então é porque JAMAIS houve amor. Talvez haja memórias a serem acessadas ou perdidas, mas jamais houve amor, porque se ele existiu de alguma forma, os sentimentos perenes são muito mais nobres, mesmo não mais sendo românticos ou eróticos.
Amamos nossos pais que já se foram, e apesar de alegações químicas e biológicas consideradas, continuamos a amá-los. Por quais motivos? O que significa, remonta, qual a utilidade desse amor?
A natureza desse sacrifício então precisa estar ligada diretamente à persecução da vida, da “libido”, do crescimento pessoal e comum, de um costume distinto, imponente e augusto da vida.
Sim, nos sentiremos confusos, perdidos, erraremos, nossa humanidade nos conduz a isso, mas qualquer coisa é mais sã do que a ideia narcisisista, hoje tão comum, de que somos deuses, construídos pela fama ou dinheiro. Essa é a conclusão mais estúpida, mais asinina e infantil possível, pois acaba por resumir a vida fora da realidade, sempre baseada em uma idealização que se esfacelará de dentro para fora por ação inevitável do tempo e do chamamento à realidade por algum “ego verossímel” perdido por aí.
Se sacrificar pelos filhos, por alguém ou por algo que se ama, SEM abdicar de valores como moral ou caráter, se torna cada vez mais o verdadeiro cálice sagrado hodierno.
Noto que minha escolha e dedicação crescente pela psicanálise, que agora abraço, está fundamentalmente ligada à noção de afeto e quiçá sacrifício, que ficou dormente muito tempo em minha existência.
Os valores materiais, os boletos, as contas, as necessidades de sobrevivência, sempre existirão, mas sempre existiram, ora. Sempre estiveram aí. Em que momento nos esquecemos de coaduná-las com as necessidades existenciais pessoais e as do próximo? Irmão, você quer ser um cara melhor ou pior?! Escolhe, porra!
O encerramento de meu Instagram foi uma decisão muito mais simples do que imaginei na medida em que meu estudo da filosofia e da psicanálise caminha. Meu professor, por exemplo, não possui rede social, minha irmã, uma executiva de alto escalão, abomina qualquer coisa que infira a ela mais materialismo e hedonização do que o necessário. Tenho amigos que seguem o mesmo caminho aduzindo que isso lhes toma tempo a ser gasto com coisas infinitamente mais importantes e REAIS.
Notem que ainda estamos tratando de “sacrifício”. Abandonar algo em detrimento de outro. A grande questão é: o que estamos dispostos a abandonar, a sacrificar, perder (por que não?). E qual será a “colheita”?
Ao nos distanciarmos da noção de realidade, nos afastamos também da inexorabilidade de nossa finitude. E esse é o nosso medo? O fim freudiano, a ausência paterna ou materna, a possibilidade do não seguimento ou inexistência transcedental religiosa proposta, seja ela qual for?
Em algum momento da vida será necessário se questionar o que será deixado para trás? Que tipo de sacrifício será feito? Será material? Será afetivo? Será existencial? Será um pouco de tudo?
Existe apenas um sacrifício que não pode ocorrer. É o de sua retidão moral. Porque ao fazê-lo, e não cuido aqui de psicopatas, de transtornados, de sicofantas, mas de GENTE, tal sacrifício não conseguiria justificar a “condenação” a ser paga. E é justamente nesse reconhecimento, nessa “pena”, que se encontrá a redenção. De pecados, que sejam. De erros. Dos perdões a outros e a si próprio.
Nesse sentido, a recusa ao sacrifício é a rejeição A SI MESMO. À nova possibilidade de acerto, de novos caminhos, de novas visões, de amores maiores, mais completos e complexos, de conexões mais adultas e possíveis. Sacrifício dói porque é crescimento.
E então…o quanto você está disposto a sacrificar para ser mais feliz, mais humano, mais gente? Note que isso automaticamente cria novas perguntas muito mais árduas…quanto mais você vai resistir? Quanto mais você aguenta fingir? Quanto mais você suporta ser menos você para ser mais o que esperam que você seja? Quanto tempo demora até a máscara cair? Que pílula escolherá engolir?
Pare alguns minutos, feche os olhos, se pergunte o que realmente está faltando em sua existência, o que realmente você deseja, o que realmente pode fazer a respeito. Mas pense e responda como adulto.
Então…esse é o seu sacrifício. O abrace perceba a realidade que até hoje te foi negada. Você já sente o cheiro da mudança? Já nota o ar mais puro?
Mas quem está mudando é VOCÊ e não o mundo. Percebe agora?
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