Apego, a raiz de todo o mal.
- HP Charles
- 11 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Não sei se vocês já tiveram a experiência de praticar alguma arte marcial. No jiu-jitsu, principalmente no começo quando ainda se faz muita força, por vezes chegamos ao limite de nossa capacidade física, há um cansaço que te domina absolutamente em virtude do esforço depreendido. Tal exaustão te catapulta para um estado onde você parece se desprender e nada mais importa. Você simplesmente aceita a sua situação. A sensação é algo que parece ser transcendente.
Nesse momento parece que o universo toma conta de tudo e sentimentos estranhos nos povoam. Estranhos mas positivos, benignos. Essa entrega física e mental, essa resignação, talvez possua relação com o desapego, mesmo que momentâneo. Você deu seu máximo, fez o melhor que podia face a determinada circunstância e seu corpo finalmente chegou ao limite naquele treino. A paz é absolutamente enebriante e quem já passou por certas circunstâncias, sabe.
Essa “terapia” física e mental é capaz de salvar e mudar vidas porque nos conecta ao mundo de uma forma diferente. A sensação emulada de que tudo nos foi tirado, vez que mal podemos mexer um músculo, nos causa uma breve experiência de liberdade que é inigualável. Mas temos que retornar ao nosso cotidiano de posse e apego, não é mesmo?
Deixar ir é um ato de imenso, de abissal poder. A força contida em abdicar é infinitamente maior do que em se apegar. Não raro o apego se dá negativamente e muitos não percebem isso. Os vínculos nem sempre são positivos. Existem pessoas que permanecem “apegadas” pelo mal, pela raiva, pelo ressentimento. É evidente que isso faz mal à própria pessoa e nenhum mal ao outro. Por vezes é muito mais produtivo deixar as pessoas estarem erradas sobre você e pronto. Se descole e siga em frente, não há nada a provar.
Em uma sociedade materialista e individualista, é comum nos apegarmos a objetos, a coisas que acreditamos fidedignamente precisarmos para sermos felizes. Mas essa percepeção é uma ilusão via de regra. Quando descobrimos que nós possuímos as coisas e não elas a nós, tudo muda de figura. Mas isso é algo que é preciso ser descoberto e vivido. Existe toda uma máquina que te leva a acreditar no contrário.
É muito comum ver pessoas julgando outros por opções de vida onde haja desprendimento e que limitam suas ambições a questões ligadas a afeto e interações humanas. Essas pessoas normalmente são muito mais felizes pois perceberam o que realmente tem valor em um vida finita e breve.
O apego material e sentimental precisa ser conduzido de uma forma positiva e controlada, caso contrário vira doença e dependência. O apego pode gerar neuroses, ciúmes e idealizações, criando perturbações terríveis que acabam por destruir a qualidade de vida da pessoa.
De certa maneira, o apego quando é direcionado a alguém é o oposto do amor, vez que condiciona à uma suposta obrigação que determinada pessoa te faça feliz. E o amor é apenas o desejo de que o outro seja feliz.
Pessoas que entenderam a força e o poder contido no desapego deram um passo à frente na escala evolutiva e experimentam certamente uma vida mais pródiga e saudável emocionalmente. Se concentram em relações produtivas, amizades sinceras, viagens e boa alimentação.
Desapegue. Daqui nada se leva. Foque em conexões reais, leais, benignas. Caixão não tem gaveta. Tudo, absolutamente tudo, é emprestado.
“O apego é a raiz do sofrimento” - Buda
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