Então…eu vi “Poor Things”
- HP Charles
- 17 de mar. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de mar. de 2024
Durante 2023 inteiro todos esperaram pelo lançamento de "Poor Things". Atrasos e mais atrasos, maciças campanhas publicitárias, entronamento precoce, uma babação de ovo sem igual. E finalmente vi a película. E achei uma enorme FARSA.
Notem que todo fuzuê e expectativa que acompanhava o filme foi gerado pela aura sexual que sempre girou em torno dele. E principalmente por ter Emma Stone como protagonista de inúmeras cenas de nudez. Tendo em vista a relevância dessa atriz no mundo do cinema e o desejo e curiosidade que muitos têm por ela, isso, por si só, já causou um enorme engajamento.
Essa semana, ao ler um post de uma moça chamada "Natália Sulman" no IG, finalmente me senti à vontade para escrever um pouco sobre o filme, notando que não estava sozinho em minhas impressões. Sabem como é na internet quando se expõe opiniões muito diferentes do público e da crítica, não?
Poor Things me pareceu um libelo político disfarçado desde o início. E não me refiro apenas ao filme, mas a tudo o que o envolveu fora dele também. Todo o entorno e a filosofia contida na película é absolutamente direcionada. Hipersexualização, críticas veladas ou diretas à fidelidade, à maternidade, ao tradicionalismo, além do estímulo e validação da entrega ao instinto e ao prazer por eles próprios. Há uma cristalina glorificação do hedonismo e da "porra louquice" com um embrulhinho filosófico de meia pataca. O que temos é mais um despejar ideológico bem típico da Hollywood dos últimos tempos.
Frankenstein é uma mera desculpa. Na obra original, o desejo da criatura em entender o mundo, ser amado e viver experiências, é eivado angústias, medo, mas também de alguma empatia. Bella não é uma figura que parece ser dotada de qualquer empatia ou temor. Ela quer experimentar, quer "igualdade", e se desvencilhar de qualquer preconceito que sua época apresenta. E assim o faz. E o filme valida a enorme quantidade de sexo das mais variadas formas a que a protagonista é submetida. Bella, em nome de suas experimentações se torna objeto, brinquedo, coisa. Essa é a "liberdade a que se propõe".
Os valores perseguidos, oriundos do mais contraproducente feminismo e que tem levado tantas mulheres à infelicidade e à solidão, estão todos lá. E apenas isso importa para Bella. Isso e claro a "igualdade social". Traições, uma criança que sofre faminta por leite materno, não parecem causar o menor pesar para a protagonista.
A academia continua empurrando ideologia goela abaixo das pessoas e em Poor Things ela é disfarçada sob o manto de uma pretensa intelectualidade, sob a capa de um filme cult, sob a reputação de um diretor cultuado. Mas é mais uma "Roupa Nova do Imperador". A disassociação de uma linguagem literal não implica em qualidade, é preciso entender isso.
Nesse sentido, Bella é mais uma representação da "mulher moderna" do que de qualquer obra clássica. Como bem disse Natália, há uma enorme sensação de inverossimelhança que compromete toda a experiência proposta em Poor Things. Sim, o elenco é muito bom e a produção é primorosa. Mas nada pode salvar um filme em que não se acredita.
Infelizmente, após assistir ao filme, fiquei com a clara sensação de que falar sobre a história que apresenta se tornou secundário em relação ao que representa e ao que realmente se propõe. Existem dezenas de resenhas iguais na internet, facilmente encontráveis. O mais importante é deixar claro que Lanthimos perdeu uma oportunidade e o cinema também. Dirigiu para a política, para grupinhos e para quaisquer interesses, menos para quem deveria, o público real.
É incrível a persistência de Hollywood em sua agenda, e é ainda mais surpreendente como as pessoas ainda não cansaram totalmente dessa baboseira. Não cansaram de serem manipuladas e direcionadas. Ainda aceitam consumir o que o pessoal da cobertura quer quer que seja consumido.
A suposta procura de Bella por "humanidade" jamais foi retratada no filme, e essa deveria ser sua maior procupação e intento em que pese o rio em que se banhou a história. Há muito sexo, muita nudez, muita "liberdade", muito instinto, crítica à "tirania patriarcal", muita agenda. Mas não há um "real" encontro com o amor e com valores humanos como a lealdade e a empatia.
Não posso dizer que tenha ficado surpreso. Já está assim faz tempo. Cada vez mais recorro ao cinema antigo. E meu apego não é ao saudosimo, mas sim à qualidade e à INTEGRIDADE. Em que momento a propaganda deixará o cinema livre? Será que deixará um dia? Ou será que as amputações permanecerão? O maior problema não é apenas a ideologia por trás da produção, mas o fato de que tal ideologia não reflete a realidade, e como um castelo de cartas, Poor Things não sobrevive a um escrutínio mais atento.
Me deparei com várias curtas resenhas de Poor Things em grandes portais e sites da internet, e nenhuma delas ousou tocar na verdade, no ponto nodal do filme. Todos estão cansados de saber sobre a história do filme e o que acompanhou a produção. Mas por que diabos ninguém quer falar do "óbvio ululante", que é o enorme preço que o cinema vem pagando pela contaminação ideológica? Vejam, não há mais como esconder o problema hodierno, que é calcado no individualismo, no relativismo e no instrumentalismo. E Poor Things glorifica exatamente isso, um "Prometeu Moderno" a serviço de uma narrativa mesquinha e destrutiva. Uma criança mimada, alheia a afeto, medo e lealdade. A ideia passada pela protagonista mente para as mulheres de que a transgressão apaixonaria a todos os homens. Não há heroísmo em Bella. Ela não inspira, apenas ilude.
É irônico como após assistir a um filme que se propõe a falar de "liberdade" e descobertas, eu tenha me sentido tão escravo e tão enganado. Não importa quantas estatuetas sejam entregues, muita gente já percebeu o engodo. É preciso um pouco mais de coragem de quem produz e de quem assiste. Entre os que esperavam ver um filme profundo e marcante e os que só queriam ver os peitinhos da Emma Stone, apenas um grupo teve sucesso. Advinhe qual...
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