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Introspecção e autenticidade. Como é ser assim.

Você é daquelas pessoas que é capaz de falar por horas quando é preciso por conta de seu trabalho, por exemplo, e depois passar um dia inteiro sem dizer uma só palavra? Quando você tem que ir a algum evento ou festa, isso de alguma maneira te drena e então você volta para casa e se sente extremamente revigorado? Ambientes cheios, barulhentos e conversas com pouco propósito te esgotam? Então provavelmente você é uma pessoa introspectiva.


Quando a introspecção se soma com a autenticidade, ou seja, você é uma pessoa que se sente menos propensa a fazer concessões, a "concordar", então pode apostar que terá um círculo de amizades bem restrito.


Por vezes pessoas tem dificuldade em perceber a real personalidade de pessoas introspectivas porque no cotidiano, em seus trabalhos ou obrigações, essa característica parece sumir. Posso falar por mim mesmo. Sempre fui capaz, desde muito jovem, de falar com facilidade para muitas pessoas e durante muito tempo. E na advocacia, minha profissão de origem, isso é muito positivo. Nunca tive problemas em fazer audiências, em debater, em me posicionar profissionalmente, em opinar. Mas para ser sincero, nunca gostei. Ansiava por despir meu terno e retornar para meu mundo de filmes, livros e música. E isso sempre surpreende quem se torna mais íntimo.


Há uma confusão na cabeça de quem conhece alguém com introspecção porque há uma tendência em se relacionar com o que se vê "no lado de fora" e que pode se apresentar totalmente distinto do real cotidiano da pessoa, que na verdade é contida, reservada, fechada.


Um exemplo que me parece apropriado é a maneira como eu vivi a pandemia. Fora alguns momentos reais de irritação natural e desejo de ver a rua, o sol e outras pessoas, a reclusão não me afetou de fato. E quando se trabalha remotamente, sonho de muitos, a introspecção tende a se tornar ainda menos evidente. Vídeos, calls, escrita, quando são algo que é preciso se fazer, precisam sublimar tal característica e é o que acontece. Há uma dissociação do que se vê na tela de um celular para a realidade cotidiana.


Existem pessoas que são muito famosas, extremamente comunicativas, e que na realidade mal podem esperar para chegar em casa ou acabar uma live. E mais, se sentem absolutamente esgotadas após desempenharem. Falam horas e depois disso passam o dia seguinte mudas.


Me parece que têm a tendência a gostar de dias chuvosos e frios. Se refugiam em leitura e filmes. Preferem um tipo específico de música. Parecem se sentir mais à vontade em lugares com algum tipo de isolamento. Não é raro que sair de casa seja algo que fazem porque precisam, e ainda se tornam ansiosas "para resolver logo o que se há para resolver" e retornar. Não vamos confundir com misantropia, onde há uma aversão à pessoas, essencialmente, o introspectivo curte mesmo seu mundo, seu quarto, seu chá.


Quando isso se soma à autenticidade, com o rompimento de padrões e gostos comuns ou populares, talvez ainda haja um "afastamento" maior. Uma grande dificuldade em lidar com redes sociais além do que é preciso. E isso ocorre porque quem é autêntico não se sente compelido a concordar, não sente necessidade em fazer parte ou adotar o ordinário, principalmente no que concerne a opiniões.


Não sei se por eu mesmo ser introspectivo, mas sempre achei mais atraente esse tipo de gente, e não raro me é mais difícil me relacionar com pessoas mais efusivas ou festivas. Vejam, não é que falemos pouco, nos expressemos pouco. Apenas não nos sentimos tão à vontade para fazer isso com quem não nos é familiar ou íntimo. Podemos ser extremamente comunicativos em certas situações ou momentos, mas gostamos mesmo de alguma reclusão ou privacidade. Se há propriamente dificuldade em comunicação, há uma questão também de "timidez". Coisa bem distinta.


Durante a minha vida inteira eu residi em cidade grande e a vida inteira desejei morar em um chalé, em algum lugar menor. Mas bem menor mesmo. Em breve devo me mudar novamente para uma cidade pequena e mal posso esperar. A possibilidade de ir para um lugar frio e mais reservado é extremamente atraente para mim.


Outra coisa que talvez seja uma característica de pessoas introspectivas, e provalvelmente é, é a maneira como prefiro me vestir. Sempre gostei do clássico e de poucas cores, todas elas mais conservadoras. Preto, cinza, azul marinho, com pouca variação disso. Você que está lendo esse texto também é um pouco assim?


Existem dias em que o introspectivo torce para nada acontecer. Para que ele possa apenas ter o prazer de ler seu livro, assistir seu filme ou bater papo com alguém que lhe conhece realmente.


Ser introspectivo também não é gostar de solidão. É apenas querer ter seu espaço emocional. Talvez por pensar muito. A verdade é que normalmente uma pessoa basta a quem tem esse temperamento e é preciso cuidado para não se desenvolver relacionamentos simbióticos, o que evidentemente não é saudável. O convívio com outras pessoas é algo absolutamente necessário e por vezes temos dificuldade em entender isso.


As redes sociais e a internet tem isolado muito mais as pessoas, ninguém discute. E isso tem trazido inúmeros problemas, principalmente para os jovens. Ficar restrito a relacionamentos virtuais, videogames e streamings, causa cada vez mais doenças emocionais e de socialização, e isso vai gerar um adoecimento do corpo e da alma.


E então? Você se identificou com esse texto? Você se considera uma pessoa introspectiva e quiçá, autêntica? Isso te gera solidão ou conforto? Te faz se sentir abandonada ou livre? Talvez essas sejam as perguntas mais relevantes e dicotômicas para quem possui tais identidades. Há um meio do caminho que sempre precisa ser alcançado entre solitude e a solidão. E para o introspectivo essa é a questão a ser vencida.




 
 
 

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