O mercado da vitimização
- HP Charles
- 21 de abr. de 2024
- 4 min de leitura
Os mais modernos estudos em “vitimologia” (sim, existe tal ramo na psicologia) indicam que existem pessoas que se sentem extremamente bem quando são “vitimizadas”. Sendo mais claro, existem pessoas que PREFEREM ser vítimas e sua própria identidade se confunde com tal experiência.
Vocês já repararam como é fácil encontrar na internet e nas redes sociais pessoas que literalmente investem emocionalmente em se tornarem vítimas? E a partir daí optam por interpretar qualquer evento ou situação para PROVAR que são vítimas? Capitalizam desde eventos triviais e pequenas enfermidades ou idas ao médico, como algo que parece ser muito maior ou relevante.
E quando não são vítimas criam uma falsa sensação, uma imagem de vitimização ou até pior, induzem outras pessoas à vitimizá-las. Isso é chamado dentro da psicologia de “projeção de identificação”.
O ponto nodal da questão da vitimização hodierna é que ela passou a fazer parte das relações interpessoais como uma forma de construção psicológica que gera uma identidade quase que imediata com pessoas que possuam tendência a algum tipo de distúrbio de estabilidade, e essa mesma vitimização “by proxy”, digamos assim, cria um elo de consumo entre essas pessoas.
Também se acredita que um número muito grande de pessoas com algum tipo de transtorno de personalidade, como narcisistas encobertos, usam a vitimização como forma de manipulação de terceiros. Vamos traduzir: vitimização GERA GRANA! Vitimização é ÚTIL.
A sociedade moderna empoderou as vítimas como um projeto político. Ora, logo quanto mais vítima você for, mais poder terá. Mais terá direito a um tratamento especial. “Olhe, ali está uma vítima, seja bom com ela, acredite nela, lhe dê credibilidade, a ajude, dê dinheiro a ela”.
A vitimização conferiu direitos que por sua vez geraram “obrigações” para terceiros. Como vítima é possível induzir inclusive competição para manipular mais pessoas. É a guerra da carne, a ode ao sofrimento, catapultando narrativas a fim de gerar mais dinheiro e visibilidade. E acreditem…funciona.
O “movimento da vitimização” é atualmente a real identidade de muitas pessoas. Muitos influencers, muitos políticos, muita gente famosa deve sua real notoriedade a esse tipo de manipulação. E isso é afirmável justamente porque a vitimização pode ser muita coisa, mas não necessariamente é oriunda de fatos reais. Muitas vezes nascem apenas de narrativas convenientes. Claro, depois de formado o elo identitário, ninguém pensa mais nisso. Ao se clicar no vídeo tudo passa a ser real, a ser verdade, a ser preciso, e pouco importa como aquele laço emocional se formou.
“Houve uma transição da era da dignidade para a era da vitimização”. Não se liga mais realmente para reputação ou dignidade, pois tais atributos foram sacrificados em nome da vitimização, evidentemente.
Atualmente ser algum tipo de vítima significa, em síntese apertada, ter muito dinheiro, muito poder, manipular pessoas. É “maravilhoso”, não? É a treta, desde a sua fabricação, gerando a cadeia de consumo que termina com um enforcamento (que evidentemente precisa ser público), para que a vitimização faça seu trabalho de martirização com rentabilidade. E o mais impressionante de todo esse processo é que apesar de ser absolutamente óbvio, ele continua passando despercebido pela abissal maioria. Até quando? Não se sabe.
É fundamental ressaltar que existem GENUÍNAS vítimas de abuso, de injustiças, de sicofantas, de charlatões. Tais vítimas passam por fases de recuperação e cura, e por vezes dividem suas histórias com outros, mas tais reais vítimas SEMPRE SEGUEM EM FRENTE. Entenderam a sacada? Não é interessante para quem se aproveita da vitimização deixar determinada narrativa morrer. Se isso acontece, acaba o propósito, acaba o lucro.
Essa é a verdadeira diferença entre uma “vítima genuína” e uma “vítima patológica”. A primeira sempre seguirá em frente, se reconstruirá, buscará redenção. A outra será uma vítima eterna. Sempre será lembrada por ser…vítima. Esse é o jogo. E mais, percebam, ela se orgulhará de ser uma vítima, inflará o acontecimento que gerou a vitimização sempre que possível. Não raro a primeira coisa que dirá será justamente…”que foi vítima”.
Com o passar do tempo isso se tornará uma identidade. A “real” identidade por trás de todas as outras. E ela será manipulativa e competitiva por natureza. “Ninguém sofreu mais do que eu, ninguém foi mais perseguido do que eu”. Grana, senhores. Não se iludam, por obséquio.
E infelizmente a maior parte dos tik tokers, Youtubers, produtores de conteúdo das mais variadas formas, encorajam essa vitimização. A perpetuam, incentivam, reinforçam. Tentem lembrar de exceções? Conseguem?
Se tornar uma vítima é basicamente se tornar uma espécie de anjo intocável que jamais erra ou errou, que nunca foi irresponsável, nunca teve culpa em nada. Como é possível se apontar um dedo que seja para um anjo, quando o certo seria trilhar a defesa de uma canonização sumária e claro, financeira?
A vítima então foi pedestalizada, objetificada e adorada. Mas raramente contestada. Contestar uma “vítima” estragraria não só o jogo, como poderia romper com elos psíquicos, com idealizações e fantasias, e as pessoas cada vez mais escolhem a pílula errada. Tá dando merda faz tempo, mas basta arrastar para o lado que a dopamina chega.
Então o que fizemos ao final? Objetificamos as vítimas e as idealizamos ao mesmo tempo. A vitimização se tornou uma espécie de religião moderna, um culto enviesado, uma adoração narcisística, e meus caros, há apenas uma verdade indiscutível…haverá lucro. Não para você, lógico.
A igreja precisa funcionar, não?
Bóra fabricar os mártires? Basta isso.
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