
A dicotomia do prazer e do sofrer
- HP Charles

- 19 de nov. de 2023
- 3 min de leitura
Muitas vezes em nossas vidas nos vemos imobilizados por uma dicotomia que parece simples mas nos assombra face aos traumas e vicissitudes da vida. O que é preferível? O risco do prazer ou a certeza do sofrer? Vocês ficariam absolutamente surpresos se eu afirmar que boa parte optaria pela segunda opção?
Sim, a pretensa segurança que não passa da real escolha que abriga a infelicidade é a opção de muitos. Por medo. Por traumas sofridos. Por acomodação. Vejam...a avaliação precisa ser justa e real. Não é a predileção juvenil por aventuras ou por escolhas adolescentes que tratamos "in casu". É a desistência abraçada por vários fatores errados. Fracassos, baixa autoestima, cansaço.
Sim, o novo possui riscos. Há pedras na estrada, há a incerteza dos recomeços, há necessidade de um esforço maior por uma recompensa que não se sabe se existe. Dá trabalho. Parece ruim? Ok. Mas e a alternativa? O sofrer consignado. A irremediabilidade do que se sabe, do que se conhece. É melhor do que a mera possibilidade do prazer? Cada um dará suas respostas, assumirá suas escolhas e encontrará as consequências em algum momento. A mim nada parece pior do que o não ter vivido. Do possível vislumbrado e jamais assumido.
Mas a natureza humana por vezes é assim. Impactados por nossas cicatrizes e traumas, pela conviccão da repetição insípida e supostamente inalienável, muitos optam pela escolha medíocre, que só será revista muito a frente, quando não resta mais nada a fazer além de lamentar e das ladainhas. Do barco empurrado para o rio aguardando a flecha com a chama final.
Se me perguntarem direi que, superadas as devidas avaliações, escolherei sempre o risco do prazer, vez que não existe certeza maior do que a tragédia do que não se viveu, do prazer possível e relegado. A depressão, a melancolia mais pérfida, a tristeza mais amarga, tem sua nascente na máscara usada para nos escondermos de nós mesmos. Os sintomas não passam do reconhecimento dessa realidade. Na permissão que damos ao passado em ditar nosso futuro.
Tudo o que a vida pede de nós, em última instância, é coragem. Nada mais. Sim, assumir riscos e optar pelo crescimento é ter que se preparar para o sofrimento, como bem dizia Nietszche. Mas E DAÍ? A vida é basicamente feita de derrotas e perdas, vez que o mais inepto dos homens é capaz de lidar com as vitórias. Se você não é capaz de enfrentar as tragédias e as decepções, eu tenho uma notícia terrível para te dar. A estrada da tristeza lhe aguarda.
Por outro lado, saber que arriscou, que acreditou quando não havia mais motivos para se acreditar, que se escolheu talvez, na pior das hipóteses, cair atirando, o caminho sempre será o da REDENÇÃO, independente do resultado. Pois ele consiste na maturidade da aposta na superação de seus traumas, de suas convicções e de suas pseudo certezas, construídas como castelos de areia.
Presos em nossas bolhas de conforto e fugas mundanas, nos vícios mais ignóbeis, sob o manto da rotina alienadora, há sempre a alternativa permeada pelo "talvez" produtivo, libertador, reabilitador. A escolha, dispensadas as ilusões, sempre será entre o vôo incerto e o cativeiro seguro que impede seu destino de alcançar a si mesmo. No final, a escolha nem é tão difícil, não é mesmo? Há apenas duas dores. Uma que te machuca e outra que te muda. Todo resto é excesso.





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