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Gravidez. O fim da relação para um narcisista.

Narcisistas não se relacionam com objetos externos, apenas com objetos internos. Ao conhecer sua vítima, ele a “escaneia” com sua empatia cognitiva e reflexiva, verifica se ela possui ao menos 2 dos 4 “S” (Suprimento, Sexo, Serviços e Segurança) e então a idealiza, iniciando uma fantasia dividida.


Ele não se relaciona de fato com a vítima, mas sim com o introjeto dela idealizado em sua mente. A parceira então será mumificada e calada. Esse avatar foi imaginado e confeccionado como perfeito em todos os sentidos. A vítima possui nesse momento, todos os atributos a fim de atender exclusivamente à fantasia do narcisista a revelia da realidade. O investimento emocional (catexis) não é na parceira, mas na ilusão que foi criada.


Nessa fantasia a vítima não terá sonhos, desejos, projetos, a não ser aqueles criados na mente do transtornado. Claro, se a relação é com alguém que só existe na mente dele, a vida dela será conduzida pela narrativa criada por ele.


É muito comum um narcisista desejar e cobrar um filho no início da relação. Se aquela mulher é a perfeita, se ela é realmente a mulher da “vida dele”, e ele tem certeza disso vez que a FANTASIA foi criada por ele, o tempo passa a ser relativo, não? Por que esperar para casar, ter filhos e um labrador? E é por isso que a relação costuma andar tão rápido e não porque a “máscara cairia”. Não, isso é mais pertinente a psicopatas, onde há um plano, um objetivo determinado a ser seguido, como obtenção de dinheiro, sexo, poder, contatos.


O objetivo do narcisista será SEMPRE sumprimento e atender à fantasia que criou e investiu fortemente na fase de idealização. Então, um filho que seja uma imagem dele, que de certa maneira o espelhe e represente, faz sentido. Ele deseja um “mini me” para servi-lo, e não para amar. Narcisistas não são capazes de amar, apesar de acreditarem que sim. Eles idealizarão e objetificarão os objetos externos que transformarão em internos. Ponto.


A gravidez traz um enorme problema para os planos de um narcisista patológico. Em minha opinião, um problema intransponível. Ao engravidar a mulher MUDA. Em vários aspectos.


Ela muda fisicamente, emocionalmente, hormonalmente, muda sua direção de atenção e de perspectiva em relação à sua existência. Ela precisa se preparar em todos os aspectos para gerar vida. A mulher não possui alternativa a não ser se transformar. Ao fazer isso, o objeto interno é alterado, forçando o narcisista a reconhecer a vítima como um objeto externo, que opera e funciona como alguém independente de sua vontade e que não coaduna mais com a fantasia que criou. A solução que ele encontra é começar a desvalorizar a sua nova “mãe”.


E o fará de forma brutal, cruel e muitas vezes abruptamente. Ele não será mais a única criança na relação. Aqueles seio que era só dele será dividido. As necessidades de um bebê são inadiáveis e as dele ficarão em segundo plano, pois uma criança tão pequena evidentemente não conseguirá sobreviver sem cuidados intensivos no início da vida. Ela nem sabe que a mãe e ela são indivíduos distintos.


O narcisista em seu solipsismo não se importará. Como ressaltei, ele só se importa com SUPRIMENTO. Durante a gravidez e após o nascimento, ele não será mais visto como era, não terá a disponibilidade da parceira como tinha, seu conforto será abalado. Mas ele também é uma criança. Em algum tempo a mãe perceberá que “emocionalmente” seu filho de 3 ou 4 anos será mais maduro do que o narcisista. EMOCIONALMENTE, repito.


Sabemos que após a desvalorização ocorrerá o descarte e a substituição. Os ciclos são inexoráveis. No entanto, o narcisista pode permanecer FISICAMENTE na relação por diversos motivos. Financeiros, moradia, receio de ser visto publicamente como alguém que abandonou o filho e a esposa com um bebê, dificuldade em obter uma outra fonte segura de suprimento. Ele pode permancer ao lado dessa vítima como uma casca durante anos, mas psicologicamente terá ido. Não há mais nada lá.


A vítima, é claro, não entende. “Mas ele queria tanto um filho!”.


É frequente no trabalho clínico me deparar com abandonos de vítimas mesmo nos primeiros meses de gravidez. Entre ter que mudar ou abandonar, o narcisista sempre escolherá abandonar. Narcisistas são incapazes de mudar pois são incapazes de aprender. Eles não mudam de série, jamais passam de ano. E por isso, no final da vida, sempre são reprovados.


A mãe será mãe solo desde o momento em que engravidou. Ela viverá a vida dela e de seu filho destituída da presença de seu par. Ela se uniu a uma ausência travestida de presença, mas não sabia disso. Agora ela sabe. E descobriu da pior maneira.


O narcisista, ainda assim, objetificará o filho a quem negligencia emocionalmente e financeiramente (salvo quando é compelido a fazê-lo pela justiça). O filho será exibido como um troféu em redes sociais e fotos de fim de semana meticulosamente arquitetadas. A figura pública do narcisista tende a ser impecável, o que sustentará a narrativa de vítima que criará a fim de controlar a dinâmica da situação.


Via de regra a mãe arcará com todas as funções de alimentação e higiene da criança. Ela será esgotada durante anos, muitas vezes seu corpo e saúde mental sofrerão as consequências de uma gravidez tão solitária.


O narcisista retornará à sua vida de solteiro. Sua responsabilidade se limitará a pensionamento e agrados de fim de semana. Ele rapidamente engatará em uma substituta e não raro, terá outros filhos com outras mulheres que também serão transmutadas em mães e abandonadas.


O narcisista deseja imensamente ter um filho, mas odeia ter de exercer a paternidade. Tudo que interfere com seu conforto, com sua suposta divindade, será visto como incômodo, como desprazer, como inconveniente.


A mulher é capaz de gerar vida e ele não, e isso desafia a crença do narcisista em sua própria onipotência. Que ousadia, não?! Na competição que ele estabeleceu com sua parceira na relação, vez que para ele sempre foi competição e não parceria, foi consignado um revés. E ele invejará a mãe de seu filho. Não por quem ela é, pois a despreza fortemente, mas invejará o que ela possui. A atenção de seu filho, a amizade de seus amigos, o abrigo de sua família, o reconhecimento de que foi capaz de fazer algo que ele não conseguiu. Gerar um novo ser em seu corpo. E então criticará o dela. O mesmo corpo que teve de fazer um esforço quase insuportável a fim de lhe dar um herdeiro.


Como ele desejava uma cópia perfeita (pois se vê como perfeito e infalível) a fim de atender a seu falso ego, se a criança apresentar algum tipo de imperfeição AOS OLHOS E CRITÉRIOS DELE, tal ser será ainda mais relegado e afastado pelo pai narcisista, pois será visto sempre como uma ameaça à sua imagem de alguém sem “falhas”.


A mãe e o filho tem uma única função na vida de um narcisista. Servi-lo. Seja o emprestando serviços ou a reputação de “um homem de família”. Nada mais. Para ele nada existe fora dele.

Em uma família com um narcisista, só pode haver uma criança. Uma criança tirânica e cruel. Ela não dividirá sonhos, suprimentos ou seios com ninguém.








 
 
 

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