
A Idade Média moderna
- HP Charles

- 26 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
Essa semana acabei por ir a um condomínio de luxo na Barra da Tijuca que ainda não conhecia. Um empreendimento nababesco reservado às "beautiful people" que moram nesse bairro emergente.
Um forte aparato de segurança processa o acesso às hiperdimensionadas casas de luxo sempre com inúmeros carros importados em suas garagens.
A ostentação é notória, traduzindo uma realidade muito diferente da encontrada no lado de fora. É uma bolha de prosperidade no meio da falência da segurança pública e da miséria que vive o Rio de Janeiro.
No entanto, uma imediata analogia veio a minha mente quando adentrei nas ruas bem asfaltadas do lugar. Me recordei dos antigos castelos com suas muralhas e fossos. Projetos de arquitetura com a finalidade de impedir o acesso de invasores e pilhadores.
Percebi a quantidade de seguranças e esquemas de triagem e a comparação foi imediata. Era como se presenciasse um retorno a Idade Média, com carros no lugar de cavalos, com casas suntuosas ao invés de muralhas, onde guardas com pistolas substituiam os arqueiros.
O que realmente buscam os moradores desse condomínio? Evidentemente estarão sempre desconectados da vida fora de seus muros, e me parece que é justo esse o real e primordial intento. Deixar o país vivendo dentro dele.
O problema é que eventualmente terão que deixar a segurança de suas muralhas para encarar o mundo fora de seu abrigo impenetrável. Seus filhos em algum momento sairão de seus carros blindados e serão expostos a um universo para o qual não foram preparados.
Um dia o lobo sopra a casa de palha e os porquinhos terão contato com a violência e a criminalidade que ronda os castelos. Como eu sei disso? Eu sei porque é assim que a vida é.
Aprisionados em um filme de Stepford Wives, onde tudo é planejado, perfeito, mas insípido, o mundo eventualmente engolirá a fantasia, como SEMPRE faz no decorrer da nossa existência. Seja por uma perda familiar, por uma doença, por uma falência, pelo desconhecimento de como agir do lado de fora dos muros consagrados.
A pergunta que me fiz ao deixar o local e olhar pelo retrovisor foi irônica mas pertinente. Vislumbrei um exército de seguranças, armados, cancelas e guaritas e me perguntei quem estaria realmente aprisionado? Quem sai ou quem fica?
Você pode construir uma cela de luxo, com tudo o que há de melhor, com todos os mimos da modernidade que o dinheiro proporciona, mas não pode por os pés na rua e deixar seus filhos desfrutarem plenamente da vida porque você tem medo sejam sequestrados. Ou então fica paranóico com receio de que sua esposa seja assaltada ao virar a esquina ao deixar o mundo de fantasia e segurança que você criou.
E então um dia se dá conta de que o prisioneiro sempre foi você e que seu quarto não passa de uma conveniente e elegante masmorra.





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