O beijo.

Nunca entendi quem não gosta de beijar. O beijo resume tantas coisas, diz tanto sobre você, pede e oferece intimidade. Mais do que o sexo. O beijo é o termômetro de uma relação e sempre será fundamental e intransponível.

O beijo precisa ser vivo, quente, molhado. Precisa conter entrega, imaginação, olhos fechados, tesão. Beijo bom é aquele em que você deixa a parceira rendida, a sente escorrer em seus braços, fluída.

Beijos redimem, transformam seu dia, te fazem sonhar, te fazem sentir o gosto de quem você gosta. São uma mistura de afeto, sexo e saliva. Não acredito em quem beija mal. O caráter dificilmente consegue ser escondido quando se beija alguém.

Sempre achei estranho essa coisa de "ir para a balada para beijar um monte". O beijo deveria ser guardado para momentos especiais, para pessoas especiais, pois cada beijo é único e irrevogável. A vulgarização do sexo só não é pior do que a vulgarização do beijo. Até as prostitutas sabem disso.

O beijo sempre foi muito importante para mim. E o ato de procurar o beijo é altamente significativo. Buscar a boca do outro é um movimento de diligência, uma persecução metafísica, o começo e o fim do sexo. Sexo sem beijo é como o orgasmo da masturbação. Pode até trazer prazer, mas jamais trará transcendência.

Ao beijar alguém propriamente você adentra à alma e aos mistérios dessa pessoa. Você pode fingir no sexo, mas jamais no beijo. O beijo te entrega, irmão. Ele mostra sua identidade, sua intenção, seu ritmo na cama. Ele te despe.

Poucas coisas na vida são melhores do que um beijo de língua. Molhado, humano, ígneo. Ele te transporta, deixa o "beijado" ereto ou úmido, imediatamente. Beijo é conexão, é sonhar acordado, é confissão.

Poucas coisas são mais sexuais do que um beijo roubado em um momento de tensão com sua parceira. Aquele em que você faz as pazes depois de uma discussão cotidiana e banal. Aquele em que você beija para calar e mostrar que há coisas melhores e mais importantes a se fazer. Aquele em que você aperta contra a parede, puxa a nuca e os cabelos para então desferir o ósculo matador. Aquele que começa na cozinha e termina na cama. Tal beijo solidifica a relação e solapa o mal entendido. Porque beijo é perdão.

Senhores, se o beijo é meia boca, esqueça. Há conserto para muita coisa, mas não para um beijo que não vale a pena. E você saberá o que vale e o que não vale, acredite. Toda máscara cai no beijo.

Beijos não se pedem, se roubam. Acumulam cheiros, sabores e devaneios. Beijos precisam ser dados sempre de olhos fechados, pois o que você precisa saber não te será dito através dos olhos, mas da língua. Beijo é postura, é carteira de identidade, é montanha russa. Se não for, é melhor não beijar. Há vários tipos de incompetência, mas beijar mal, displicentemente, deveria gerar pena elencada no Código Penal.

Seu beijo diz muito sobre você e sobre quem você beija. É uma porta para a sua intimidade e um convite para seu coração. É uma pena ele ter se tornado algo tão trivial nos dias de hoje onde as pessoas passaram a entregá-lo tão facilmente a estranhos, à pessoas desimportantes, a quem jamais se verá novamente. A banalização do beijo é a banalização do amor, mas ainda não entenderam isso.

Por isso, se for beijar, beije como se fosse a primeira e a última vez. Beije longamente, sinta a emotividade e a sexualidade contida naquele momento. Deixe a saliva entrar em sua boca, a deixe escorrer, a consuma febrilmente. Não há nada mais explícito do que isso, porque não há nada mais íntimo do que isso. O beijo é a maneira com que nos unimos a alguém em um degrau mais alto. Beijo é levitação. Jamais seja mesquinho ao encontrar outra boca. O beijo é o amor em ato, carne e líquido.

Então vá e beije...