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A maldição das redes sociais e do mundo moderno.

Pense por um momento. Se você não trabalha com redes sociais o que elas realmente trazem além de estresse e dopamina barata? Sim, é possível se conectar com pessoas que estão longe e possibilitam o acesso a informação variada, abundante e imediata sobre praticamente tudo. Mas não é sobre isso a que me refiro, não é mesmo? Me refiro ao vício, ao conforto, à desumanização.


A internet e a vida moderna nos tornou preguiçosos e nos viciou em atenção e em conforto. Se temos fome pedimos fast food, as redes sociais embotaram nosso senso crítico e percepção da realidade, a tv nos ensinou que não devemos ficar entediados, o álcool nos mostrou como nos anestesiar, a nicotina como não nos estressarmos, a pornografia nos conduz a não falarmos com o sexo oposto. Tudo nos levou a nos desacostumarmos com o desconforto.


Nenhum produto mais é criado que não seja para te fazer evitar ter sentimentos desconfortáveis. Mas tais sentimentos fazem parte da vida. E então fugimos da cura. Fugimos de nossa humanidade. Fugimos do calor humano, das mãos apertadas, do sexo significativo, das relações verdadeiras, quando tudo o que precisamos é justamente um pouco de DESCONFORTO para tornarmos nossas vidas melhores. É incrível como isso já não passa mais pela cabeça de ninguém.


Você faz tudo pelo celular e pelo controle remoto. Filmes? Só fazer um streaming. Comida? Você pede pelo app. Conversas? Texto pelo Zap. Relações? Tinder. Sexo? Xvideos. Dopamina? IG. Compras? Amazon. Evidentemente algo seria afetado. O ser humano se adapta a tudo o que dão a ele.


Sempre que é possível prefiro ouvir a voz. Mesmo que seja pelo telefone. Já existe algo orgânico ao menos. Tenho conversado com um amigo que conheci faz pouco tempo e que aparentemente é capaz de falar com pertinência sobre qualquer assunto. Venho aprendendo e desejo aprender um pouco mais. Em seus quase 60 anos ele me passa informações e me indica caminhos que foram descobertos ao longo da vida com muito esforço, sem fórmulas mágicas. Há toda uma composição humana e empática ali. A troca é real. Nos sentamos, conversamos, trabalhamos, e acabamos por tornar tudo menos artificial. Não é igual a uma call insípida, a um programa qualquer de computador. Menos plástico e mais carne. Mais alma. Fico pensando se os jovens se dão conta disso? De que as facilidades do mundo moderno também os podaram.


Vocês se lembram do ritual de ir à uma locadora alugar um filme e na volta comprar algo para comer? Você passava minutos e minutos remexendo nas prateleiras e isso era uma parte prazeirosa do processo. Isso fazia parte do fim de semana. O dono ou funcionário da locadora era seu amigo, a pessoa onde você comprava a pizza trocava uma ideia com você. Essas conexões se perderam e nos tornamos reféns de nossos celulares. Já pararam para pensar porque os predadores do mundo moderno, os narcisistas, jamais soltam seus celulares?


O acesso imediato à dopanima no arrasta para o lado, para cima e para baixo, nos tornou robóticos, virtuais, desalmados. O conforto é obrigatório, indispensável e destrutivo. Mas claro, não percebemos isso. Fomos condicionados a não perceber. Fomos condicionados apenas a consumir.


Sim, podemos fugir. Para dentro de livros, para dentro de nosso trabalho, para dentro de uma rede social qualquer. Há muito medo. As pessoas acabam se tornando solitárias em tudo o que fazem. Em suas relações, em seus cotidianos, há um enorme problema existencial sendo gerado. E não há solução aparente para ele. Não sem se abdicar do conforto.


Exercícios ajudam e muito, mas o que precisamos é de propósito, e o proprósito não pode ser acúmulo. O propósito precisa envolver encontro, paz, afeto. Quando nos esquecemos disso?


Esse processo terapêutico de escrita que me possibilita dar um recado, dividir minha experiência de vida, precisa ser muito mais do que apenas "ser lido". Eu realmente gostaria que muitos mais fizessem isso. Recentemente conheci uma pessoa que escreve o que sente em relação à vida e o que lhe traz preocupação e angústia, sentada em uma cadeira na cozinha. Ela me disse que é um cantinho especial para ela. Um confessionário, talvez? Eu a imagino fazendo isso e como tal hábito a ajuda. Há um processo pessoal e intransferível ali. Acho bonito pacas.


Todos os conceitos e valores foram revistos. Em 2024 o mundo impende imediatismo e desconexão. Deveríamos estar melhores, mais felizes, mais unidos. Mas não estamos. Estamos cada vez mais sozinhos. A tecnologia nos deu conforto, mas não respostas. Não as que esperávamos ao menos.


Me parece que a única solucão viável é um retorno ao desconforto. Nem todos conseguem enxergar isso mas um dia esse passo precisará ser dado. Um retorno ao osso e a relevação do cibernético. Conexões binárias são importantes, mas jamais serão suficientes. É preciso gente.


 
 
 

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