
A toxicidade das redes sociais. O quadro é bem pior do que se imaginava.
- HP Charles

- 23 de abr. de 2024
- 6 min de leitura
Se eu te pedisse para “chutar” um número a respeito de pessoas que possuem contas no Instagram e se autodeclaram infelizes. Que % viria em sua cabeça em uma escala de 0 a 100? Que porcentagem te pareceria razoável imaginar?
Eis o número obtido em pesquisa feita pela Royal Society of Public Health em junho de 2018: 63%. Imediatamente duas ilações podem ser feitas a respeito de tal número. A - ele é assustador. B - tendo em vista que dificilmente as pessoas costumam dizer a verdade ou se sentem confortáveis em expressar sentimentos negativos, tal porcentagem deve ser muito maior. Muito maior mesmo. É plausível acreditar que a ação do tempo nesses anos que se passaram os devem ter catapultado para a casa dos 90%? Estamos em 2024, qual será o real tamanho do estrago?
Uma outra e imediata questão é se perguntar se é o IG que deixa as pessoas infelizes ou pessoas infelizes é que costumam ter contas no IG. É apenas um palpite, mas diria que a primeira possibilidade me parece mais razoável. E vou além…me parece razoável imaginar que, pela expressividade do número, houve intenção nessa direção na construção desse algoritmo.
Houve direcionamento a vício via dopamina, estímulo à competitividade, a aumento de ansiedade e de depressão. Ou seja, houve intenção de se criar a adicção.
A situação das redes sociais fica pior quando descobrimos que contas com ZERO CONTEÚDO possuem milhões e milhões de seguidores. Normalmente contas de adolescentes, para adolescentes, onde absolutamente nada é proposto além de movimentos repetitivos ou tolices que fariam vergonha em qualquer pessoa com capacidade cognitiva normal. A pergunta que fica é por quê? O que está acontecendo? Por que tanto engajamento em uma conta onde uma pessoa simplesmente descasca uma banana (e sem nenhuma intenção sexual, deixo claro)? Como uma conta com esse conteúdo (uma menina e bananas) gera 16 milhões de seguidores?
A psicologia já sabe que a necessidade de validação e sinalização de virtude cria APENAS ansiedade. Vamos traduzir: se um produtor de conteúdo cria um post e consegue 1000 likes, e seu próximo post gera apenas 500, ele FALHOU. Como você acha que isso afeta a cabeça de um jovem, por exemplo?
Note que a competição não é apenas com outro produtor de conteúdo, ou com o “mercado”, mas sim consigo mesmo. Ele precisa sempre exceder a si mesmo. O resultado é evidentemente ansiedade de performance.
Continuemos a deslindar a tragédia. 41% dos calouros recentes em faculdades que estão em redes sociais reportaram extrema ansiedade contra os 18% obtidos também por calouros na década de 80. Redes sociais são o único componente variável nessa mesma situação entre as duas datas.
Nós já sabemos por estudos psicológicos variados que a quanto maior exposição a “screen time” (tempo de tela), maior a criação de ansiedade, depressão e taxas de suicídio. Então vamos a mais alguns números: desde 2007 houve um aumento de 20% no nível de ansiedade entre os jovens. 17% desses jovens desenvolveram ansiedade SEVERA, ou seja, com algum risco de vida, comparados com 3% que tiveram o mesmo sintoma mas há apenas 10 anos.
Sabemos também que screen time diminui níveis de felicidade, satisfação de vida, e diminui a autoestima. Ao passo que aumenta ansiedade e depressão. Nos últimos 30 anos a ansiedade de jovens entre 15 a 25 anos cresceu 70%. É um número assombroso, senhores.
Os números também mostram que o número de suicídios entre adolescentes, desde 2010, subiu mais de 32%. É a primeira vez na história que a maior causa de mortos de jovens de 24 anos é oriunda de suicídio e não de doenças ou acidentes. E isso está intimamente ligado às midias sociais.
Redes sociais não são fontes exatamente de vício, mas de CONDICIONAMENTO. Vamos então fazer um exercício simples de imaginação dados os números e a realidade vivida e notoriamente já conhecida no que tange aos sentimentos gerados pelas redes sociais. Quais os sentimentos são mais produzidos ou condicionados? Seriam positivos ou negativos? Acho que sabemos a resposta.
Inveja seria o maior deles. Todas as mídias sociais foram construídas ao redor da INVEJA. Elas são difusoras e amplificadoras de inveja patológica. E mais, tal inveja é quantificada e exposta através de likes, de retuítes e afins. Então elas não apenas quantificam a inveja como a catapultam, a incentivam, percebam…
A inveja se tornou a motivação maior nas redes sociais a fim de que determinado conteúdo ou ação fosse produzida. Eu adicionaria mais um “sentimento” nessa equação. Agressividade, vez que inveja patológica é uma forma de agressão.
Eis um FATO interessante que corrobora tal dedução. O Twitter (mais conhecido como cracolândia das redes sociais) inicialmente oferecia a possibilidade de se usar até 140 caracteres. Depois esse número passou para 260. A psicologia já descobriu que discursos de ódio, bullying, ofensas, agressão, necessitam de muito menos palavras para serem produzidos do que sentimento contrários.
Menos caracteres basicamente encorajam mais agressividade em massa, mais humor depreciativo, mais o que costumamos chamar de “brutal honesty”, enfim, mais uma porrada de comportamentos insultuosos e negativos do que positivos.
Ora, há um espaço vazio para se digitar, não? O que você nota mais ao lembrar do Twitter? Ofensas ou compaixão? E por que isso acontece? Em “minha opinião” é porque toda a estrutura dessa rede social foi criada para isso. Houve condicionamento e não real escolha. Sinceramente…o que te parece mais realístico e possível se ler no Twitter. Um “eu te amo” ou um “foda-se”? Você concorda que o primeiro termo soaria estranho, mais raro ou até inadequado? E você acredita que isso seja uma coincidência?
O que acho fundamental iluminarmos é que essas plataformas incentivam a repetição de “uso compulsivo” e a geração de sentimentos negativos e que tudo indica que isso foi planejado. Quando pensamos através da psicologia, percebemos que APENAS tais sentimentos (ódio, inveja, agressividade), geram uso repetitivo. Façam agora as contas e nela insiram a o fato de que isso não começou agora. O “vício” e a compulsão foram construídos junto com tais plataformas. Compreende por que tantos têm dificuldade em deixá-las?
Faz cerca de um mês que abandonei de vez o IG pessoal após muito conversar com uma insistente colega (futura psicanalista) que apontava como tal rede social influenciava o comportamento das pessoas de forma negativa e muitas vezes inconsciente. Havia uma alteração e ponto. E ela notava isso com frequência e em inúmeros perfis. E é incrível como deixar tal rede social trouxe IMEDIATO benefício psicológico. É cristalino que estou longe de ser um caso ou fato isolado. Ponto pra ela.
É evidente, senhores, que como forma de divulgação profissional, como uso em atribuições profissionais, as redes sociais têm papel importante e preponderante. Mas me explique então porque 65% das postagens são “selfies”.
Sim, não existe nada mais arrogante, inútil, narcisista, do que o selfie. Para que mais ele serve além da obtenção de “biscoito”, likes, validação, de busca por ampliação de autoestima? Vejam, não me refiro a selfies criados para família e amigos íntimos para dar notícias, mostrar aquela viagem bacanuda com os filhos para quem está distante. Estou tratando dos selfies narcisistas, adulatórios, quiçá sexuais, mesmo que disfarçados, que sabemos gerar sinalização e engajamento imediato. É quase um pedido de ajuda, não?
Se tal tipo de foto e de exposição representa 65% do total, é justo dizer que a ideologização do narcisismo que verificamos atualmente faz algum sentido, não? Contextualizem, por obséquio.
Destarte, é relevante pensarmos em algumas coisas: que tipo de conteúdo realmente buscamos? O que representam as redes sociais em nossas vidas? Quanto tempo passamos nelas? Que tipo de influências e sentimentos elas nos trazem? Que mudanças e prognósticos desejamos e podemos fazer para o futuro das redes sociais?
Tais questões se tornam cada vez mais frequentes e relevantes na medida em que vêm moldando e transformando a sociedade. Outra questão que já me parece relevante é: quem permanecerá e quem sairá futuramente do barco? Cada vez fica mais claro que isso está ligado inteiramente à psicologia das pessoas ou de grupo determinado pessoas. A orientação não é de gênero, social ou geográfica. É comportamental psicológica.
Por fim, mais um pequeno detalhe que deixo para refletirem. Recentemente o Instagram colocou um dispositvo de contagem de tempo de tela para seus usuários. O que isso te parece? Eles já perceberam? Eles sabem, não? Claro que sabem.
Eis a questão derradeira…se fosse criado um tipo de droga que encorajasse o aumento no número de suicídios em mais de 32 % entre os adolescentes, tal droga seria imediatamente banida?
Pois é…





Comentários