Alfredo, o primeiro fiel amigo

Não tive filhos. Nunca me senti preparado filosoficamente para eles, nunca tive o desejo inconsútil de trazer uma alma ao mundo, e acho que isso é fundamental. O desejo.

Ocorre que sou mero coadjuvante na história, que não remonta bem a mim, mas sim a meus pais. À época em que eu e minha irmã começamos a deixar a casa paterna, pressenti que um vazio tomaria conta do nosso lugar. Resolvi então preencher aquela lacuna com uma presença diferente.

Fui então a um canil em Niterói e comprei um beagle com a condiçãp de poder devolvê-lo em uma semana, caso as coisas não dessem certo.

Pois bem, em um primeiro momento houve muita resistência, claro. Meus pais não sabiam o que fazer com o "Alfredo". Tudo era estranho e novidade. Tanto para meus pais, quanto para o bichinho.

Hoje não fico nada surpreso, mas naquele tempo foi divertido assistir à mudança causada por apenas uma semana com o cachorrinho. Algo havia acontecido ali.

Meu pai principalmente, se apegou de tal forma que logo vi que seria impossível quebrar aquele laço. Foi uma paixão arrebatadora que mudou a visão de meu pai sobre cachorros bem como alterou sua vida para melhor.

Como já escrevi antes, meu pai também tinha episódios esporádicos de depressão, assim como eu, e o doguinho foi absolutamente terapêutico.

É impressionante como uma alminha tão pequena pode ganhar tamanho espaço em nosso coração. Minorando a tristeza, espantando a solidão, nos fazendo sentir um amor puro e dedicado.

E foi assim até a morte de Alfredo, um amigo que se tornou inesquecível para toda a nossa família, e que trouxe tanta alegria e afeto.

Depois que ele se foi, não era raro ver meu pai quase que de forma mediúnica falar seu nome enquanto olhava triste para a varanda na Barra da Tijuca. E foi assim até o dia de seu falecimento, sempre lembrando do amigo que se foi. Nesse exato momento sinto uma lágrima ardida doída descer do canto de meus olhos.

Se fiz algo de bom para meus pais foi isso. Ingressar com uma nova vida no meio de vidas velhas e cansadas. Tudo se renovou, e esse é o verdadeiro condão da existência. A renovação.