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Band of Brothers. A melhor série já feita.

Band of Brothers acompanha a trajetória da "Easy company", um regimento de paraquedistas do exército americano, desde o seu treinamento até o final da segunda guerra mundial. O espectador então é convidado a conhecer a história daqueles bravos homens em sua aventura ao longo de seu caminho por dentro da Europa, até Berlim.


Evidentemente as cenas de batalhas e as enormes vicissitudes pelo qual o batalhão passa são apresentados com absoluta maestria. Muitos deles morrem ao longo da campanha, deixando um sabor amargo na audiência.


No começo de cada episódio um relato real do que aconteceu é contado pelos próprios soldados da Easy company. Já idosos, relembram com orgulho o importante papel que desempenharam na luta contra o nazismo. Nos remetem aos atos heróicos e homenageiam os amigos que perderam a vida brutalmente em uma guerra que foi lutada na maioria das vezes em combate muito próximo, quase corpo a corpo. Não havia mísseis, drones, um botãozinho a ser apertado para matar centenas.


Eu poderia escrever parágrafos e parágrafos de como a história foi perfeitamente contada, de como a série é magistral em sua fotografia, em como os atores foram impecavelmente escolhidos e dirigidos. Entendam, cada capítulo é uma obra prima. No entanto, quero focar na real premissa da série, na camada que está acima dos próprios fatos históricos. Me refiro às relações humanas e de caráter que ultrapassam a barbarie de uma guerra impiedosa e cruel.


Na medida em que as batalhas recrudescem os laços de amizade aumentam. Homens que ao começo do treinamento eram meros estranhos se tornam irmãos. Cobertores, comida, medicamentos, munição, afeto, tudo é dividido. Se um não come, ninguém come. Se um passa frio, o outro passa frio. A honra, o caráter e o sentimento de que aquele terrível trabalho precisa ser cumprido, transforma jovens em homens de pedra, que superam a dor, o sangue, as perdas, em nome da luta por sua nação contra um inimigo tão determinado quanto eles.


Logo no primeiro capítulo, um veterano nos conta que em sua pequena cidade, 3 voluntários, ao terem seus alistamentos negados, simplesmente se suicidaram, envergonhados por não poderem representar seu país. Vocês conseguem sequer cogitar isso acontecendo hoje? Jovens de 18 ou 19 anos desesperados por não conseguirem lutar em uma guerra brutal? Imaginar isso hoje seria um devaneio com a mentalidade da juventude hodierna cujo o único conceito de herói que possuem vem da Marvel.


Para mim o fator humano destacado pelos escritores torna Band of Brother a melhor série jamais feita. Não há nada que chegue perto. O espectador é catapultado para as trincheiras e imediatamente se identifica com o sacrifício daqueles soldados, estóicos até a morte, obstinados em prevalecer sobre um regime tirânico que assolava a Europa.


Cada capítulo conta uma história diferente porém conectada, e a conexão, em síntese apertada, é feita pelos laços de irmandade da companhia Easy. Em muitos momentos você irá se emocionar e chegar às lágrimas com os atos de heroísmo, com a coragem e com as perdas de personagens a quem você passará a se identificar desde o início.


A guerra cria laços perenes pois os guerreiros entendem desde cedo que a confiança em seu amigo ao lado é tudo o que possuem. É PRECISO confiar em seu irmão de armas. Acreditam que nunca serão deixados para trás e isso realmente acontece, pois o caráter foi moldado na base de tiros e sangue, de lama e de frio. O soldado ao lado na trincheira não será esquecido ou abandonado nem que isso custe a própria vida. É algo sublime de se ver, senhores.


Em determinado momento um tenente, ao ser questionado por um soldado abalado pelo medo, questiona sobre como seria possível suportar tanto perigo e tantas tragédias. O tenente então responde que o grande problema é a esperança. Se o soldado já dá como certa a sua morte e a abraça, tudo fica mais fácil e ele consegue fazer seu trabalho com desenvoltura. Que lição. Que coragem.


Em 2023, hipnotizados pela filosofia do individualismo e da ganância, do desprezo e da indiferença pelo próximo, assistir a Band of Brothers deveria ser obrigatório. Um tapa na cara de muitos, uma aula de vida e de honra. Vivemos com medo de tudo, nos relacionando por mensagens de texto, roboticamente, bloqueando e apagando humanos sem nos incomodar com sentimentos e vidas que não sejam as nossas, esquecendo de nossa finitude e que ela pode chegar no dia seguinte por qualquer motivo, vide nossa fragilidade. "Conte apenas consigo, passe por cima do outro, eu primeiro, eu, eu, eu."


Aquela horripilante guerra forjou homens na base da porrada, como o aço que precisa apanhar para se tornar espada. Os obstáculos e adversidades vividos pelos bravos soldados da Easy company lhes deram memórias, muitas trágicas, e esculpiram seus corpos e caráter, os tornando melhores. Mas acima de tudo os fizeram mais humanos ao contrário do que poderíamos esperar em situações tão difíceis.


Cada prato de comida fria, cada bandagem, cada pacote de sulfa, cada ampola de morfina partilhada os tornou pessoas superiores, mais capazes, mais íntegras. Quem sangrou junto se ergerá junto e sorrirá junto novamente um dia. Esse é o espírito mesmo no meio da lama. Laços indestrutíveis foram formados, nada os romperá, nenhuma força ou revés.


Eu pergunto a vocês: o quão o mundo precisa disso atualmente? Vivemos outros tempos onde o abandono e a indiferença impera. Senti alguma inveja mesmo assistindo tudo da poltrona. Depois nos perguntamos por que há tantas doenças da mente, por que há tanta solidão, por que nos contentamos com relações tão insignificantes que podem ser desfeitas com um clique de mouse.


Enquanto não voltarmos a entender que a vida é uma guerra onde eventualmente precisaremos contar com um irmão em alguma trincheira, as batalhas se tornarão mais difíceis. Você pode contar com dinheiro suficiente para quando adoecer, mas quem levantará seu espírito? Que memórias terá em seus momentos finais quando a honra e o arrependimento serão as únicas coisas que importam? Que lembranças carregará para seu túmulo? Em que momentos cruciais de sua vida você poderia efetivamente ter sido melhor, mais humano, mais empático, se importar mais?


Band of Brothers é uma série que certamente marcará a sua vida e com um pouco de sorte te fará refletir sobre aspectos relevantes de sua existência, te levará a se questionar sobre seus comportamentos em relação ao próximo. Não precisamos de mais tecnologia e isolamento em nossas trincheiras, precisamos de vida, de abrigo e afeto, de preferência incondicional, sem nada esperar em troca. Todo o resto é secundário.


Força e honra!



 
 
 

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