“Discurso de ódio?”

Eu fico pensando...em que momento discordâncias viraram "discurso de ódio"? Quem inventou isso, quando demos esse passo para trás, prevenindo o debate, condenando sem conversar?

Chegará o tempo em que não haverá mais espaço para a conversa desposada de pudores, bilateral, o papo fará curvas. Sim, evidente que é a política, mas por que avalizar algo que é ruim pra gente?

Necessariamente qualquer pauta em que eu tiver uma divergência será proibida? Vai ser assim? E no boteco, na vida real, isso funciona? Penso que não. Acredito que na vida fora da internet, os grupos ainda falam abertamente sobre tudo.

Os nichos ideológicos, proibitivos, repletos de pudor e de "virtude", só existem na internet, unindo os similares e excluíndo os divergentes. Isso é ruim? É péssimo.

Como alcançar e debater ideias diferentes pode ser possível sem aquele contraditório maroto? Quer debate desce para o boteco? Só esse receio, essa suspeição, já é indício de que há algo de errado, algo mudou pra pior.

Talvez alguém veja vitória em amputar os discursos, talvez alguém até se sinta menos ofendido, mas por que isso é positivo?

Para evitar o risco de ofender vamos evitar a conversa aberta, a troca de influências e referências? Vamos falar do tempo, das compras de supercado, das bobagens do cotidiano?

Há uma tendência antropológica do homem se dividir em grupos com interesses similares, sabemos. Mas e o novo? E o diferente? Perdeu a vez?

Definitivamente prefiro ser ofendido. Quero ouvir o outro lado, quero ficar puto eventualmente ao me deparar com um pensamento diametralmente oposto ao meu. Acho isso SAUDÁVEL.

Não sei se como dizem alguns o "mundo tá ficando chato", apenas acho que tá ficando pior. E no momento, pelo andar da carruagem, não vejo muita saída além da polarização asnática e feroz.

Vamos então vivendo como equilibristas, escolhendo as palavras, pulando as linhas, pinçando o vocabulário como se fora um malabar.