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Do que você tem realmente medo?

Atualizado: 11 de out. de 2024

Muitas vezes nos unimos a alguém ou a algo, pelos motivos errados. Muitas vezes eles são fúteis e oriundos de nossa imaturidade. Na medida em que o tempo passa, o bombardeio químico diminui e as sensações de recompensa, e os momentos frescos e novidades se tornam menos impactantes com o estabelecimento de uma rotina. A realidade tende a aparecer e descobrimos muitas vezes que o outro não era mais do que uma projeção, uma idealização. Muitas vezes o outro, os objetos adquiridos eram apenas placebos para lidarmos com nossos medos e codependência. Para suportarmos a vida.


Não raro nos apaixonamos por coisas absolutamente transitórias e que muitas vezes jamais corresponderam à realidade. Nos conectamos à beleza, ao sexo, ao cheiro, e frequentemente esquecemos o mais relevante. Que o que precisamos nessa vida, acima de tudo, é daquela pessoa que te diga nos piores momentos: "você consegue, você irá encontrar uma coragem e energia que nunca teve antes". E mais importante do que isso. Acrescentará: "se tudo der errado, estarei lá para você". TODO O RESTO é negociável, mas jamais isso. A presença independente do momento.


Se você foi abandonada ou não teve apoio nos momentos mais difíceis, mais escuros, é sinal que jamais houve amor, e que, por conseguinte, investiu mal. Em síntese apertada, queremos alguém para que nossas vidas sejam melhores e não piores. Por isso tantos são abandonados e esquecidos na doença e nas dificuldades. Porque nunca houve uma conexão genuína, apenas interesse. Nunca se tratou de amor mas sim de utilidade, de conveniência, e claro, de alguma patologia, como psicopatia, por exemplo.


Nunca é tarde para se conhecer alguém e se apaixonar. Nunca é tarde para se surpreender, para se deparar com aquela pessoa que apareceu e realmente preencheu uma fração de sua alma que parecia já desenganada, mas é preciso se assegurar de aquela pessoa estará em seu córner nos momentos mais difíceis da "luta".


Sim, por vezes queremos tanto sermos amados que nos entregamos às pessoas erradas, pessoas que não conhecemos, que se aproveitam de nossas carências ou de algum momento frágil que vivemos. Por pavor da solidão e do abandono, por sentimentos infantis, porque temos medo.


Mas medo do que exatamente? Nossos finais serão iguais e democráticos. Caixão não tem gaveta, e nada levaremos. Existem pessoas que têm filhos apenas porque acreditam que serão cuidados ao final da vida. Que se casam e estabelecem relações falsas, coalhadas de "felicidade artificial e tóxica", que engolem diariamente um inferno de deslealdades e submissão, porque genuinamente acreditam que jamais serão deixados em momentos cruciais. Quanta ilusão.


O mundo está cheio de filhos doidos para que os pais sumam, cheio de casamentos onde a rua e a infidelidade funcionam como alento e válvula de escape. Existem casais onde toda comunicação é truncada, dolorosa e ansiosa. Tudo por medo. Medo do inevitável. Do desconforto? Da velhice? Da finitude?


Sabe o que realmente existe e o que realmente controlamos? O hoje e como reagimos a ele. Minha mãe estava bem antes de dormir e jamais acordou. Havia feito exames na mesma semana em que faleceu e que nada de extraordinário apresentaram.


Tive amigos que saíram de casa e nunca voltaram pois tragédias os abateram nas ruas. Que medo é esse e como explicá-lo? Em algum momento de sua infância seu pai abandonou sua mãe e isso te tornou dependente? Condenada a repetir padrões? A ver em todos os homens, seu pai? A enxergar o abandono e a lesão em seu ego como monstros que surgiriam assim que as luzes se apagassem? Assim que os 30, os 40 chegassem e a juventude e beleza iniciassem seu inexorável processo de desvanecimento?


Garantia de amor? Êxtase? Bombardeio químico? Vício? Tudo isso para não ter que lidar com o inevitável? Amigos, na vida a única garantia vem da lealdade. E ela precisa ser conquistada e entregue pelo tempo. Todo o resto é conversa mole. Você só descobre com quem pode contar através do tempo vivido e quando passa pelas piores situações. Lealdade e amor são escolha e construção. Apenas aí se descobre se havia alguém a seu lado de verdade. As máscaras sempre saem do lugar em algum momento.


Existem pessoas que te amarão e pessoas que te usarão, e saber distinguí-las nem sempre é fácil. Mas a vida nos guarda surpresas, oriundas de méritos ou deméritos, e ela costuma cobrar. Há seres que caminham sobre a terra e que jamais se encontrarão, jamais preencherão o enorme vazio que carregam dentro de si, e sua existência será marcada pelo medo e pela solidão, que pode não ser física, mas será existencial e imperdoável.


Perderemos nossos pais, amigos, trabalhos, e em alguns momentos, a nós mesmos. Mas o medo disso tudo é absolutamente irracional na medida em que perdas são inevitáveis na vida. É preciso superá-las e ressignificá-las a fim de quem se tornem aprendizado e memórias saudáveis. Quem odeia, quem se ressente, quem inveja JAMAIS SERÁ LIVRE. Jamais será dono de si mesmo, pois viverá pela vida dos outros. E toma de medo...


Assim que nascemos, imediatamente começamos também a morrer. A inevitabilidade sempre esteve lá, procuramos pensar o menos possível nela e por vezes confundimos as coisas. Entregamos a responsabilidade pela nossa felicidade e por aplacar nosso medo nas mãos de outros, torcemos para que cada exame não apresente nada de anormal, acumulamos objetos, grana, ilusões, imaginando que será o suficiente. Queremos "garantias". Mas elas sempre serão limitadas.


Mas então Beto, qual é a solução, como lidar com o medo da vida e da morte, com o receio do abandono, com os términos de fases, de relações, de ciclos?


A melhor resposta sempre será...abraçando todos esses temores e os transformando em alento, consenso e aprendizado. Nos tornando mais atentos, sendo JUSTOS, nos voltando para a caridade, para o próximo. Há uma espécie de beleza madura no desapego, algo fascinante e puro que precisa ser justamente glorificado.


Faz alguns dias vi um vídeo antigo de uma booktuber bem conhecida e com muita estrada de Youtube, onde ela explicava e mostrava porque havia decidido doar todos seus livros físicos para instituições públicas e como aquilo tinha um simbolismo de despreendimento e de certo recomeço em sua vida. Reafirmava seu "apego ao desapego" e como aquilo representava em sua cabeça, um passo de amadurecimento e encerramento de fase.


E então ela mostrava o encaixotar dos livros, por vezes apontava a data em que os adquiriu, e o vídeo consignava um ritual interno transposto materialmente com o "deixar ir". Confesso que passei a ter uma certa admiração pela moça, além de torcer junto com ela para que os livros cumprissem seu papel de chegarem às mãos corretas. Meu pai, que era um leitor voraz, possuia o mesmo entendimento que essa menina, e mesmo separados por décadas, também entendia que os livros após terem sido lidos, já teriam cumprido sua função e precisavam atender a outros.


Aquele vídeo tem me compelido a fazer o mesmo com minha enorme coleção de dvds e blurays, que a partir de certo momento, perdeu todo o sentido para mim, mas que pode ser fruto de tanta diversão e alento para outros. Tal conscientização de desapego, de finitude, de encerramento, de desnecessidade, é AMADURECIMENTO.


Existe um momento para todos em que precisamos rever não apenas nossos projetos, mas também o sentido de nossos medos e ansiedades. É extremamente fácil nos fecharmos no que é conhecido e nos abatermos por ambientes onde nossa psiquê se sinta segura. Mas percebem como isso é uma ilusão? Percebem que isso é apenas medo? E que por medo podemos tomar decisões irreais apenas para que tenhamos menos medo? Que serve qualquer coisa para acalentarmos uma sensação de segurança que jamais será realizada ou completa?


Todos irão embora. Tudo irá embora. Tudo é passageiro. Tanto as dores, os infortúnios, quanto as alegrias e felicidades. E por mais que nos escondamos, por mais que nos isolemos, que nos fechemos e nossos castelos, a vida nos acha. E nos chama. Nos acorda. Nos transforma. E é por isso que a única coisa real capaz de nos conduzir através do tempo é o amor, o afeto, e a construção, mesmo que através de pequenos atos, de uma sociedade melhor. APENAS ISSO será capaz de aplacar a nossa solidão existencial, nossos medos e angústias. "COISAS" não farão isso. Precisamos ser honestos consigo mesmos e nos dizer as verdades que precisam ser ditas. Uma bolsa cara ou um carro novo não farão isso por nós. É só anestesia.


"Ser" mais e "ter" menos é a dicotomia que tem conduzido tantos ao buraco e gerado tanta depressão e ansiedade nos dias atuais, na medida em que nossas escolhas se dão por motivos errados, por prazeres transitórios e imediatos e que jamais nos tornarão INTEIROS, isso nos conduz cada vez mais aos monstros que se tornarão cada vez mais reais ao abraçar a escuridão quando desligamos o interruptor na parede. Mas o sol sempre vem pela manhã...no entanto é preciso abrir as cortinas e deixá-lo entrar. Mas de verdade. E aí o medo acaba. Percebem a ironia?


 
 
 

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