
Empáfia e finitude
- HP Charles

- 28 de jul. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de dez. de 2023
Sempre me questionei sobre a empáfia e a soberba face a nossa inevitável finitude e como tal postura é cafona e estúpida. Me parece óbvio que todo pedante é inseguro e que por trás daquele manto de arrogância há um problema de baixa autoestima. A atitude é apenas um disfarce que encobre o gato que se passa por leão.
Nos deparamos todos os dias nas redes sociais com essa tolice, seja por meio de respostas desproporcionais a perguntas muitas vezes pertinentes, seja por um academicismo brega e desnecessário, seja pela cafona e não solicitada vaidade curricular (como se currículo garantisse razão).
Em que momento nos esquecemos da simplicidade do fato que todos vamos para o mesmo lugar e que não há nada mais democrático do que a morte? Quando nos olvidamos que somos passíveis de sermos acometidos de doenças terríveis a qualquer momento? Em que ponto acreditamos que o sarcasmo não é para ser usado apenas pontualmente, e com estilo e inteligência?
Desconfie sempre da empáfia no twiter, suspeite imediatamente daqueles vídeos coalhados de moral e atitude no Youtube, pule as pregações impregnadas de razão e filtros no Instagram. Você não precisa disso, acredite. Há mais problema e patologia ali do que você pode imaginar.
Opte pela simpatia genuína da simplicidade de quem conquista no carisma e no recado produtivo. É aquele cara que brinca com o porteiro, que dá bom dia a todos, que sorri inadivertidamente ao agradecer ao caixa de supermercado pelo trabalho que prestou, que você quer em sua vida.
Há mais filosofia no buteco do que no coaching perfumado que você não pediu e que povoa as propagandas de seu smartphone. Nunca se esqueça que bravata é diferente de argumento e que quem responde mal à boa conversa ou debate, não está ali para produzir nada além de escapismo para sua própria insegurança.
Todos os dias vemos o culto ao hedonismo e ao poder na internet, e por vezes aquilo nos parece atraente por conta de imaturidade ou distorção. Acabamos por nos sentirmos atraídos pela ilusão de que a vida do arrogante é sempre melhor do que a nossa e que ele está imune a problemas e decepções. Mas é tudo um teatro. "Ele" chora quando as coisas fogem de seu controle - e a vida é pródiga nisso - "ela" vende a segurança do corpo perfeito mas toma Rivotril para dormir e tem gases pela manhã como todo mundo. Jamais se equeçam disso. Somos todos humanos, falíveis e mortais.
Se aquela pessoa se julga acima da possibilidade de tomar um café com você, é de bom alvitre questionar se o moral que você dá é um bom investimento. Há uma enorme contradição em saber que sua vida pode mudar ou até acabar amanhã e viver acima desse fato.
A fama e o sucesso são efêmeros e absolutamente subjetivos dependendo do que você deseja para a sua vida. Sim, você pode ser miserável andando de carro importado. O conforto para seu corpo não atinge necessariamente sua alma. Não são raras as notícias de suicídios e tragédias pessoai no badalado mundo dos "ricos e famosos". Em tempos de internet isso ficou muito mais explícito e rotineiro.
Se você já foi recebido humildemente com um sorriso, se foi acolhido com carinho ao fazer um comentário online, se GRATUITAMENTE foi bem tratado, entenda que são essas as relações que precisamos em nossas vidas. Todas as outras deveriam ser dispensáveis.
O verdadeiro sucesso é ser feliz e a felicidade é o um estado que normalmente é atingido com pouco. Através do amor de sua família e amigos, seja com um pedaço de bolo ou no primeiro gole de um chope comemorando o gol de seu time.
Quando a sua hora chegar, o poder e a submissão a seu padrão de vida de nada valerão. Você será igual ao mais humilde dos mortais e provavelmente se questionará sobre o que poderia ter feito melhor. Daqui nada se leva e a empáfia de terceiros diz tudo sobre eles mesmos e nada sobre você. Seja foda e trate a todos como se fossem relevantes. Pois são.





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