top of page

O Brasil nunca dará certo

Atualizado: 11 de mar. de 2024

Em algum momento, bem lá atrás, algo quebrou, saiu do lugar. Tal como um trauma infantil que sempre repercutirá se não for devidamente tratado, o Brasil paga o preço pela forma como foi construído e se desenvolveu.


São pequenas coisas que você repara e soma, e que construiram uma identidade desviada. Você se dá conta na relativização de pequenos costumes e pecados em sua população, da qual também faço parte.


É o cortar pelo acostamento, é o desejo intrínseco de levar vantagem, é o apego ao assistencialismo que leva inevitavelmente à eleição e consagração de sicofantas. Mas o problema está na mentalidade. Políticos são o reflexo de seu povo. Não há culpa de nossa parte?


Claro, há coisas muito boas no brasileiro, sua criatividade, a mistura de cores, a diversificação cultural e culinária. Há beleza e alegria em um povo tão maltratado e explorado. Mas esse mesmo povo também faz o país ser o que ele é.


Quem teve a oportunidade de conhecer países que "deram certo", percebe nas coisas mais triviais do cotidiano como está tudo errado por aqui. Como a corrupção endêmica, a criminalidade e a impunidade transformaram um país riquíssimo e promissor em um lugar de onde grande parte deseja sair. Os que podem, evidentemente.


O Rio de Janeiro, uma cidade absolutamente encantadora e com enorme propensão ao turismo, ao lazer e ao esporte, face à sua beleza natural, talvez seja o maior exemplo do mal que acomete o Brasil.


Dominada pelas drogas e pela falta de segurança pública, o carioca jamais se sente seguro em seu próprio habitat. Pior, ele aprendeu a conviver com o fato de ser refém. Ele se adaptou aos saltos no coração quando uma moto para ao lado do carro no sinal. Se acostumou com a falta de civilidade no transporte público, com o trânsito caótico, com as filas intermináveis. Há a praia e o Flamengo, entendem? Há anestesia e a maioria nem imagina que existe algo melhor. Talvez assistindo um filme o brasileiro consiga pensar em um lugar que funcione.


No Rio de Janeiro o governador ser preso se tornou tão comum que ninguém mais se surpreende. O carioca se acostumou em ser roubado, se acostumou com a sujeira e com a pobreza. Os que podem se fecham em condomínios de luxo e lá permanecem trancados, apodrecendo em suas mansões. Às vezes vão ao shopping para comprar algo que não precisam e logo retornam. E assim vamos.


Não há realmente um projeto de transformação no Rio de Janeiro, assim como não há no Brasil. É uma espécie Síndrome de Estocolmo tupiniquim. Não sem motivo muitos tem fugido para o interior, ainda mais com o crescimento do trabalho remoto. Quando a idade chega já estão cansados da tensão e da insegurança de nossas grandes cidades.


Com bastante dinheiro você pode eventualmente viver muito bem no Brasil, claro. Mas eu penso porque alguém com muito dinheiro viveria no Brasil. Talvez apego famíliar e ter construído uma boa fonte de renda aqui, mas fora isso...


O brasileiro de origem humilde tem muita dificuldade em abandonar a cultura de sua infância e amealhar a de outros lugares. Ele se adapta pior, resiste ao novo, precisa do feijão com arroz, do café coado, das músicas, sendo elas boas ou não. É cultural.


Recentemente conversei com um amigo que há muitos anos mora nos EUA e fazia décadas que não retornava. Ao colocar a cabeça fora do aeroporto já constatou como nada havia mudado. Que sentia a mesma "aura", o mesmo atraso, a mesma estagnação. E teve a impressão acertada de que nada nunca vai mudar. Talvez nunca seja muito tempo, mas a meu ver ele está certo.


O povo brasileiro foi condicionado. Ele ri, conversa, trabalha, produz, é roubado e explorado, mas no fim de samana ele toma umas geladas, faz um churrasco e fica tudo bem. O Brasil é a pizza de quarta-feira. Ele sobrevive na base dos pequenos prazeres, das pequenas indulgências, do entorpecimento eventual.


Não escrevo esse texto sem alguma tristeza. Durante anos sonhei e torci por um Brasil melhor, mais possível e funcional. Mas chega um momento em que você precisa acordar. Não me assustaria se alguém, ao ler esse texto, dissesse: "então vai embora". Já sei como funciona. O sequestro é tão forte que a crítica mais observável é incômoda porque gera uma autoreflexão e o cara não pode partir.


Mas domingo tem jogo, tem cerveja, tem a carne assada com macarrão. E o ciclo recomeça na segunda, na próxima eleição, no próximo escândalo. Assim o Brasil e o brasileiro vão caminhando, sempre de mãos dadas, rumo à imobilidade. O Brasil é um "dia da marmota" com alto número de homicídios.


Acho que ninguém com mais de 12 anos vislumbra qualquer possibilidade de mudança ou melhora. Daqui a 100 anos o Brasil pode até ter carros voadores, mas serão superfaturados e para comprá-los você precisará conhecer alguém no Detran. Sempre viveremos de criar dificuldades para vender facilidades. É como se a sociopatia tivesse sido avalizada, e como a "justiça" no Brasil não existe, fica por isso mesmo.


Leio sempre artigos otimistas, matérias animadas, notícias acalentadoras quanto ao Brasil. Mas as leio faz 40 anos. O Brasil está sempre no futuro que jamais chegou. E nunca chegará. Porque não há desejo ou revolta suficiente para quebrar a automatização de mentes a que somos expostos desde muito jovens. Na verdade eu vejo mesmo é retrocesso. Há sempre muito potencial, mas nunca ele é desenvolvido. Nunca se traduz em retorno para a nação.


A pergunta mais importante parece ser sempre quando será a próxima Copa. Isso não é suficiente.

 
 
 

Comentários


©2023 por Hp Charles. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page