
O ciúme sob a lente da psicanálise.
- HP Charles

- 1 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
Ciúme impende primariamente em posse e desejo de exclusividade. Mas de onde ele ele surge? Do amor ou da insegurança? Qual é o real receio? Perder a pessoa amada ou ser enganado? Essas são questões que deveríamos reconhecer e responder antes de se entrar propriamente na questão.
No ciume há o “espelhamento do objeto amado”, pois o ciumento então se posiciona no lugar de quem ama para depois fazer uma escolha hipotética, imaginária, entre si mesmo e uma terceira pessoa. Ocorre que devido a um problema de baixa autoestima, ele escolhe a terceira pessoa. Surge então uma ameaça em sua mente e a necessidade imperiosa de afastar instantaneamente tal pessoa daquela que é amada.
O relevante no entanto é perceber que não existe, no cerne da questão, uma relação com a pessoa amada, mas sim consigo mesmo.É possível fazer a constatação da existência de uma projeção realizada pelo ciumento (no texto anterior abordamos a dinâmica da projeção).
Como foi escrito, o ciúme consistiria promariamente em possessividade e o desejo de exclusividade, e esse é um fator comum a ser observado, mas quando ele é decorrente do medo de ser enganado - o que traz à baila a questão narcisística envolvida no ciúme - aparece o temor verdadeiro envolvido na discussão, ou seja, não a insuportabilidade da perda da figura do objeto amado e idealizado, mas sim o medo preferência dele por outra pessoa. Freud chamou tal evento de “ferida narcísica”. Sendo assim o ciúme seria uma resposta a uma ferida no ego e não ao amor por outra pessoa.
No começo de toda relação há uma idealização, uma espécie de desprendimento da realidade que inevitavelmente cairá na medida em que o tempo passa. A fantasia de que existe alguém que nos tornará inteiro, completo, e afastará todas as nossas dores existenciais jamais perdurará, e com isso a compreensão de que não existe a representacão ou possibilidade de “sermos tudo” para o outro.
O ciúme normalmente envolve uma série de neuroses mas é de bom alvitre lembrar que uma pessoa com boa autoestima (o que previne mas não impede por completo a questão do ciúme) presume que não será trocado com facilidade.
O ciúme costuma causar muitas dores e muitos problemas nas relações, mas é preciso se verificar o que realmente há por baixo dos panos. Amor, medo, insegurança ou narcisismo. O mais provável é que haja um pouco de tudo.





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