O único caminho é “através”.

Se você se sente ou se sentiu imobilizado alguma vez em sua vida, dê o primeiro passo. O único possível naquele momento. Se uma densa neblina parece te impedir de enxergar o caminho que você deve percorrer através da floresta, pois ela é muito escura, dê o passo até onde você enxerga. E então você vai perceber que saiu do lugar. Talvez nem se de conta disso. Mas ao olhar para trás, já estará enfrentando a floresta onde jamais achou que fosse conseguir adentrar.

Por vezes a vida te coloca em situações, te impõe perdas que parecem tão intransponíveis quanto àquela que te imobilizou na entrada da floresta. Mas você precisa atravessá-la para voltar para casa. A casa cujo endereço está dentro de você mesmo. Sim, o caminho vai parecer muitas vezes impossível de ser percorrido. Solitário, não há mapas em seus bolsos, você não sente força ou motivação, porque em algum momento você se perdeu ao longo do caminho. E se deparou com a floresta. Essa que tanto te assusta.

Mas enquanto você lia esse texto, e pensa em tudo o que te aconteceu em sua vida, mal percebe, que vários passos foram dados e a floresta já não é mais tão estranha. Com sorte você percebe um pássaro que te acompanha. E que estava tão perdido quanto você e só queria sua companhia. E de repente você não está mais só. E descobre que outros estão atravessando a floresta com você. Talvez você não os veja, apenas os sinta. Talvez reconheça rostos familiares, que você jamais imaginou que também estariam enfrentando aquela escuridão toda. Afinal eles nunca deixaram você saber.

Todas as pessoas precisarão, em algum momento, atravessar uma floresta escura, onde não se pode ver caminho e seu final. Durante essa travessia, conhecerá outras pessoas perdidas, outros pássaros assustados, quem sabe um cachorrinho solitário carente, ansiosos por caminharem com você, e vencerem a noite. Quantas noites você já venceu desde que entrou na floresta?

E seu caminho continua, mas as lágrimas que você deu nos primeiros passos já não mais são tão frequentes ou mesmo tristes. Elas apenas são lembranças, memórias de sua casa e do começo da viagem, aquela mesma que você acreditou que jamais seria capaz de iniciar. Eram tantos ruídos estranhos, tantos mistérios, tantas incertezas. Lembra?

Agora, você, o pássaro, o cachorrinho assustado que te segue ainda receoso, estão em passo firme, não se afetam mais pelos estranhos odores e reflexos noturnos, pelo barulho do vento nas folhas, pelos uivos ao longe de lobos que um dia pensaram que te devorariam logo no início. Essas criaturas agora te observam ao longe e notam sua musculatura e vigor. Percebem sua retidão, seu caráter, e acima de tudo sua força. Perceberam que aquele pásssaro e aquele cachorrinho carente agora seriam capazes de enfrentá-las juntos com você. Como um time. Agora mais seres se importam e você se importa com eles. Sua existência é fundamental.

E então você se dá conta que sua jornada mudou, e após meses dentro da floresta, tudo que te assustava se transformou em desafios superados, e que você fez novos amigos, desta vez sinceros, que dividiram seus temores e se tornaram leais, ao contrário das feras que espreitavam na entrada da floresta.

E um dia você acorda, pega seu cajado, caminha alguns quilômetros, e surpreendentemente enxerga uma luz muito brilhante ao longe. O que poderia ser aquilo, após tanta escuridão, medo e insegurança? Você aperta seus olhos e mal acredita. É o fim da floresta negra. É o início de um belo descampado, pródigo, florido, com frondosas árvores eivadas de frutas.

Você apressa seu passo, o passáro aumenta a velocidade de suas asas a fim de alcançar o céu azul, e o cachorrinho gira em torno de você e de seu próprio eixo, salta em suas pernas, e você então sorri e olha para o alto. Não há nuvens, há apenas um novo viajante que deu seus primeiros passos porque precisava os dar e que saiu da floresta redimido e renovado. Um novo homem.

Que enfim entendeu que o único caminho era através.