
“On Line” não é real
- HP Charles

- 23 de jul. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de nov. de 2023
É verdade que estamos carentes de referências e exemplos. Também é verdade que a Internet passou a fazer parte de nossas vidas e nos influenciar diretamente. Trabalhamos com internet, nos conectamos a pessoas e ao mundo pelo virtual. Só existe um problema. A internet não é a tradução da realidade.
Não há o calor humano, não há intimidade autêntica, não há olho no olho. Influencers, Youtubers, Tik Tokers são uma espécie de projeção dos antigos atores de cinema, aqueles mesmos que sonhávamos em conhecer e que muitas vezes defendíamos como se fossem amigos ou como se conhecessemos plenamente.
Mas na verdade pouco ou nada sabemos das famosas figuras que povoam as redes sociais. Trocamos mensagens, deixamos comentários, por vezes até pagamos por alguma atenção que possa nos ser direcionada.
É natural que a necessidade de exemplo gere uma afeição pela imagem, pelo que "acreditamos" existir, e aí criamos o quadro que nos interessa, whishful thinking. Mas não há verdade aí. Pelo menos não como na vida real. A vida real acontece fora das telas de nossos computadores. Ela aparece no aperto de mão, no abraço e no beijo genuíno, nos transtornos e infortúnios da vida. É nessa hora que realmente conhecemos as pessoas, todo o resto é ilusão e fantasia.
A voz melíflua, o sorriso contagiante, os músculos de aço, tudo isso é diferente do que imaginamos. Pessoas que parecem legais podem não ser e pessoas que parecem intragavéis podem ser maravilhosas. Isso é a internet, isso é o cinema, isso é "um teatro".
A admiração e a aceitação imediata pode nos enganar em nossa ânsia de algum afeto famoso e aí somos capazes de perdoar qualquer erro ou mácula que foi cortada na edição. As redes sociais são o novo mundo do faz de conta, onde todos são bonitos com seus filtros e suas histórias pinçadas a dedo. As tretas também são bem-vindas, claro. Geram "engajamento" e nos fazem esquecer dos nosso próprios problemas, os vídeos são os novos jornais que pingavam sangue nas bancas da cidade.
O fato que por vezes nos recusamos a reconhecer é simples e direto. Aquele notório "tuiteiro" que de vez em quando te responde, não é seu amigo. Ele não está nem aí pra você como seu camarada que te deu a mão em um momento difícil. Aquela moça que tem um canal de maquiagem ou culinária nem sabe que você existe, você apenas a achou simpática porque "no Tik Tok" ela foi gentil.
A vida fora das telas é por demais dura e a internet está logo ali para te oferecer algum escape, mesmo que por alguns minutos, mesmo que ilusório. E então fazemos assim, elegemos amigos que não temos, elencamos canais preferidos porque "ele" me respondeu, aceitamos como verdade juramentada porque são versões do que gostaríamos de ser e fazer.
A internet e seus anfitriões são a nova face da televisão, do cinema, com seu glamour, suas dicas e seu armário de Nárnia. Não há mal em algum em assistí-los, admirá-los ou imaginá-los como próximos, desde que você desenhe uma linha na areia e SAIBA que tudo faz parte de uma quimera que você criou para si mesmo, porque afinal, você só vê e sabe o que eles te mostram, o que eles permitem, o que eles querem. Não raro estão mais quebrados do que você. Acredite.
"Como são admiráveis as pessoas que não conheçemos bem."





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