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Promiscuidade e trauma.

Outro dia me deparei com um artigo muito interessante que relacionava promiscuidade com trauma. O texto aduzia à dificuldade que pessoas que passaram ou presenciaram abuso, abandono ou traumas em sua infância ou em sua juventude, possuem em se manterem fiéis ou em permanecerem sozinhas, mesmo por curto espaço de tempo. E me parece que o artigo, apesar de ser extremamente duro, acertou o alvo.


Ao me aprofundar no tema em pesquisas na internet e com a leitura de alguns artigos clínicos, passei a acreditar fidedignamente que pessoas emocionalmente quebradas possuem uma tendência absurdamente maior a serem promíscuas. E o nexo causal se calcifica pela enorme necessidade que pessoas traumatizadas ou com sérios problemas emocionais desenvolvem no que concerne a receber constante validacão.


Quando você se relaciona ou se casa com uma mulher que foi traumatizada, que foi abusada ou abandonada em algum momento, se você se afastar por alguns dias a mais, a tendência é que ela abra espaço para outra pessoa, porque o trauma ou abandono que viveu, impactou seu ego e sua psicologia, exigindo constante validação de terceiros. E "constante validação" significa, evidentemente, outra pessoa em seu espaço pessoal.


Na época de faculdade havia uma menina com quem sempre conversava e que me confessou um dia que, apesar de estar sempre com o namorado, a cada dia que passava chegava mais à conclusão de que não gostava dele, mas sim da presença e atenção que lhe era entregue na relação. Aquilo me chocou à época porque me pareceu absolutamente absurdo. Mas não era. Era um "vício" como outro qualquer. Ao invés de tabaco ou álcool, ela era era viciada em "atenção".


Você já teve essa experiência? Já namorou pessoas que foram loucas por você e que te amaram genuinamente e isso podia ser sentido claramente? E tanto acreditavam nisso que por vezes tal sentimento parecia um "vício"? Mas quando finalmente você terminou a relação e elas finalmente pararam de te ligar ou stalkear, acabaram se movendo para outra pessoa em um piscar de olhos?


E então você pensou, "espera um minuto, eu sei que aquela pessoa gostava de mim. Viajava para me ver, "escalava minha janela", me dava presentes, me mimava, me ligava a todo momento". Como isso aconteceu? Então você se dá conta que ela não era "louca" por você. Ela era louca pela SUA PRESENÇA NA VIDA DELA. E no exato momento em que você se distanciou ela arrumou um substituto sem o menor problema. Por necessidade de validação, por dependência emocional, por medo da solidão.


Pessoas quebradas emocionalmente possuem uma enorme tendência à promiscuidade e infidelidade porque não conseguem seguir em frente sem constante validação. O certo seria tratar tais inseguranças, seria resolver seus traumas e instabilidades mentais e emocionais em terapia, mas para elas sempre parece ser mais fácil efetuar substituições que as façam se sentirem "seguras", o que é ridiculamente falso. Nada substitui o luto a menos que haja uma patologia escondida ali.


Existem pessoas que farão dessa substituição, um padrão. Provavelmente você tem um amigo ou amiga que sempre faz isso. Vive de relações engatadas, onde o sexo (não a intimidade) é entregue de forma imediata e inconsequente. Muitos "one night stand", muita relativização do próprio comportamento, muita confusão emocional.


Acredito que o medo da solidão mereça um texto específico, mas por vezes esse comportamento promíscuo aparece já bem cedo, onde o afeto se confunde com uma presença qualquer, que muitas vezes apenas parece presença, mas é ausência. Entre essas pessoas o sentimento de validação é fundamental, vez que não conseguem se validar sozinhas, o que seria o saudável. O "ficar bem sozinho" que também anda muito em moda, jamais será sentido por tais pessoas, que eventualmente farão de tudo para amealhar uma alma qualquer. Recorrerão aos trágicos aplicativos de encontro e sexo, se mostrarão sempre disponíveis (mesmo que não estejam), terão sempre alguém em stand by, o que claramente já é sinônimo de de infidelidade.


A natureza de tais traumas só poderá ser desvendada terapeuticamente, mas muitas pessoas que sofrem com tal comportamento são justamente as que mais resistem a qualquer auxílio psicológico. Não é coincidência, porque rever o trauma, o abandono ou o abuso, pode ser muito doloroso. Porém é o NECESSÁRIO. Não se poderá varrer tudo para embaixo do tapete e esperar que as coisas se resolvam.


É preciso atenção sempre aos padrões. Eles são determinantes na psicologia. Se você engata relações, se usa o sexo para que gostem de você, se o medo da solidão se torna tão insuportável que transformamos qualquer mentira em verdade a fim de amainar tal sensação, não há outra saída além de parar e cuidar do ferimento imposto muitas vezes décadas atrás.


Uma transa, um substituto, uma mudança, um carro novo, um elogio, um estímulo externo, não irá mudar um comportamento que aderiu à sua psicologia. Há o tratamento trabalhoso, muitas vezes dolorido e penoso. O resto é placebo e ilusão. E toda ilusão tem uma data de validade, não é mesmo? Em algum momento será preciso crescer.


 
 
 

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