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Quando Pedro fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo.

Atualizado: 23 de ago.

Projeção é um “mecanismo de defesa no qual os atributos pessoais de determinado indivíduo, sejam pensamentos inaceitáveis ou indesejados, sejam emoções de qualquer espécie, são atribuídos a outra(s) pessoa(s). “


Quando nos referimos a alguém, estamos mesmo falando do outro ou de nós mesmos? Será que há algo no que dizemos sobre terceiros que seja um mero reflexo de si próprio? Será que em algum momento aquela atitude que tanto criticamos em nos outros não foi praticada por nós mesmos?


Por vezes não desejamos enxergar coisas que existem dentro de nós e passamos a atribuí-las a outrem. Nós as projetamos. Nossa mente então cria um mecanismo de defesa que protege nossa psicologia, da ansiedade. Um sentimento absolutamente desagradável que nos remete à experiência da morte. Isso mesmo, a angústia ou a ansiedade nos faz colidir com a sensação de que iremos morrer.


A descoberta de Freud consiste na conclusão de que em determinados momentos nossa mente cria certos mecanismos psíquicos que nos permitam evitar passar por sensações angustiantes. Já Lacan afirma que “a angústia é o único sentimento que nunca nos engana”. Dessa forma, ao nos sentirmos angustiados, nossa mente nos diz que estamos diante de algo que nos oferece perigo.


Tais perigos, na abissal maioria das vezes, não são externos. Eles estão dentro de nós. São ameaças internas e para não ter que lidar com determinados pensamentos, sensações, conteúdos que existem dentro de nós e que não queríamos que existissem, fazemos PROJEÇÕES. A defesa é da imagem idealizada de si próprio. A projeção, então, é uma proteção de uma idealização. Quem está em perigo é o meu “eu ideal”.


Nosso eu ideal é uma amálgama de fantasias, desejos e impulsos que carregamos desde a infância e que teimamos em repudiar. E por isso permanecem em nosso INCONSCIENTE. Em uma “dimensão” de nossa psiquê, que não reconhecemos, que não temos consciência.


Assim, quando projetamos, nos defendemos, acreditamos que não somos nós que possuímos tais desejos, mas sim, outro. No trabalho psicanalítico o profissional fica atento a tais discursos, pois ao projetar o paciente então…se ilude.


O desejo que alguém guarnece desde muito jovem de agredir determinado alguém, por exemplo, é projetado, e esse mecanismo de defesa faz a pessoa crer que é de outro, afinal é um impulso que não se coaduna com as expectativas pessoais positivas que existem sobre si mesmo. Aceitar que tais impulsos pessoais são próprios é aceitar que não somos aquela pessoa boa e correta que imaginávamos e a quebra da imagem idealizada que possuímos sobre nós mesmos, é uma tarefa por demais dolorosa, não?


Na projeção os impulsos reprimidos são terceirizados e não reconhecidos. Se o outro é mau, provavelmente eu sou bom. Esse maniqueísmo é ingrediente da projeção. Dessa forma, também, não preciso fazer o enfrentamento de tal desejo, e me colocando fora quadro, fora da pintura, é possível se evadir de uma luta interna. Passo então a me proteger não do meu desejo mas da pessoa de quem acredito que possui tal desejo.


Uma situação muito clara de se visualizar a projeção e na questão do homofóbico, onde a suposta aversão à homossexualidade na verdade é um desejo reprimido próprio. Ao perseguir um gay, é possível evitar uma batalha interna de ter que perseguir a si mesmo. A pessoa cria então a situação de um flerte, de uma assédio imaginário que jamais ocorreu, mas que poderia justicar em sua mente, o ódio que sente pelo homossexual. A projeção pode ocorrer em inúmeros casos, com variados sentimentos e emoções.


A crase sanguínea sempre será a proteção à idealização, à submissão que possuímos a uma imagem perfeita que fazemos de nós mesmos. Essa é uma questão absolutamente fundamental a ser trabalhada pela psicanálise. Como nos libertamos das correntes da imagem idealizada que construímos para nós mesmos? E a resposta é: com trabalho terapêutico.


É melhor ter dedicação e paciência para se trabalhar um ano na terapia do que passar dez anos reclamando e convivendo com um problema. É uma conta fácil que muitos preferem não ver.


 
 
 

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