
Sinais dos tempos
- HP Charles

- 22 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 2 de dez. de 2023
Me parece claro que quem tem mais de 40 experimenta uma certa inadequação aos dias de hoje. Mudanças culturais e sociais drásticas ocorrem em uma velocidade maior do que o normal.
A Internet contribuiu pesadamente para isso, transportando mensagens, formando grupos e assentando ideologias. Se você não pertence às gerações mais recentes, vai sentir o peso dessas alterações.
A música mudou, o cinema como conhecíamos praticamente não existe, e a literatura contemporânea, pelo menos para mim, traz poucos atrativos. Não me recordo de nenhum livro recente com propensão para se tornar um clássico. Harry Potter, talvez.
O Evangelho contido na última semana litúrgica cita os "sinais dos tempos" como um indício do Juízo Final. Mesmo não sendo cristão é curioso relacionar tal suposto evento com a derrocada de toda uma cultura ou até mesmo civilização como conhecíamos.
Seria isso? Ou teremos apenas mudanças reformistas que seriam amealhadas pelos jovens face suas novas aspirações e costumes? Não sou muito otimista. E não sou por um motivo simples: não vejo essa garotada mais feliz com tudo que vem acontecendo.
Não enxergo nessas mudanças substanciais o germinal de gente mais direcionada ou realizada. O que noto é muita polarização, uma vida dependente do celular e menos integração humana.
As facilidades trazidas pela Internet geraram uma cultura onde qualquer esforço a mais é condenável e tudo precisa ser resolvido imediatamente. Os planos de futuro parecem ter que ocorrer em um breve espaço de tempo criando expectativas impossíveis de se alcançar e trazendo a tona neuroses e infelicidade.
Os valores outrora existentes como família, casamento e relações perenes vão se modificando. O sexo é tratado como fugaz, fácil e imediatamente acessível de diversas formas. As amizades e namoros muitas vezes abdicam do contato humano e sobrevivem ciberneticamente, sem calor ou toque.
As relações profissionais cada vez mais dependem de contatos online e impendem perfis sociais e dedicação ao binário. Mas a pergunta que não cala é: estamos melhores? Diferentes, não há dúvida. Quanto a inevitabilidade das mudanças também. Mas isso tudo está criando pessoas mais felizes?
Tenho muitas dúvidas. Não sei até que ponto isso que denominam "liberdade" está sendo positivo. É isso mesmo o que queremos ou simplesmente não sabemos o que queremos?
Seria o Juízo Final uma mera alegoria? Seria apenas a morte dos valores do cristianismo que ergueram a sociedade ocidental como nós a conhecemos? Eu não tenho essa resposta.
O que tenho são perguntas. Algumas serão respondidas além de meu tempo, mas as respostas virão. O planeta vai girando, a tecnologia vai atuando e pressionando nossa civilização, criando dilemas, mudando hábitos, destruindo e reconstruindo a cultura.
Quanto a nós, cabe participar mais ou menos, gostar mais ou menos desse novo mundo, e viver um dia de cada vez na solidão das telas e processadores que carregamos em nossas mentes e mãos.





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