
Vícios
- HP Charles

- 24 de jul. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de jul. de 2024
Faz pouco menos de dois meses que saí da UTI em virtude de uma crise hipertensiva. Quase fui dessa para "uma melhor" e você não sai igual de uma situação como essa. Comigo ocorreu uma natural fragilização que somada aos remédios e a depressão que me acometia, me deixou em frangalhos.
Até então eu tinha um vício que era o uso de descongestionante nasal e digamos que "gostava muito" de Coca Cola Zero. O Aturgyl é um notório causador de aumento de pressão, mas me fazia respirar face a rinite que sempre me atacou.
Após o hospital resolvi cortar de imediato o maldito descongestionante e aproveitei e cortei também o refrigerante, que troquei por água. Já havia deixado o álcool de lado - algo que nunca foi um vício, mas era um prazer - e hoje me limito a não mais do que duas latinhas de cerveja. Não passo disso.
É impressionte como coisas que pareciam impossíveis de serem abandonadas saem do seu organismo em tão pouco tempo. Em dois meses não sinto mais falta nem do remédio e nem do refrigerante que pareciam tão importantes.
Ainda tomo os antidepressivos e não sei quando vou parar, mas isso é um tratamento e não um prazer ou compulsão. Perdi bastante peso e hoje recuperei o corpo que possuia quando bem jovem e que me parece apropriado para minha altura.
Ao longo da vida desenvolvemos vícios e compulsões de diversos tipos e maneiras. Alguns bebem, outros usam drogas, roem unhas, se viciam jogos, ou até mesmo se viciam em determinadas pessoas. Mas é possível cortar qualquer tipo de dependência com denodo e dedicação.
Em breve espero voltar a fazer o que fiz durante toda a minha vida e abandonei faz 10 anos. Atividade física regular. O esporte sempre foi um companheiro e é um antidepressivo natural, o melhor que existe.
Outro projeto é ler mais, algo que cheguei a fazer compulsivamente até os 30 anos. Acredito que qualquer crise, por pior que seja, pode ser utilizada como um trampolim para mudanças que se faziam necessárias.
O sofrimento e a dor, em síntese apertada, nos fazem aprender, nos tornam menos idiotas, mais espertos para a vida e mais atentos ao mundo a nosso redor. Sim, talvez fiquemos mais duros, menos flexíveis com relação a nossas convicções, mas a troca da ingenuidade e ilusões por maturidade e paciência é uma virada positiva na medida em que envelhecemos.
Se você acredita que precisa mudar algo em sua vida, seja abandonar algum vício ou mudar a postura em relação a coisas que não estão nos trilhos, faça logo. Não espere cair em uma UTI. O acumúlo de peso que você carrega fazendo ou vivendo o que não gosta, aprisionado em relações ou trabalhos que te deixam mal, acabam se tornando uma espécie distorcida de vício que pode te levar a um abismo que certamente vai afetar a sua saúde mental e física.
Já respiro perfeitamente sem o remédio que me acompanhou por tanto tempo. Uma pequena vitória foi deixar para trás uma bomba que pensei que fosse indispensável em minha vida. E assim podemos fazer com tudo nos consome, nos paraliza, nos torna dependentes, nos faz nos esquecermos de quem nós éramos antes do vício. Os maus hábitos não passam de uma farsa que criamos dentro de nossas cabeças e que nos faz passar a acreditar que a vida não pode ser vivida sem ela.
Mas podemos. Precisamos no entanto querer de verdade. As mudanças e o abandono de antigos hábitos passa pelo desejo e pela entrega e quando você menos espera, está "limpo".





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